No colégio nos ensinam que tempo é uma dimensão que contém os movimentos. Pensamos então no tempo como uma reta. Algo abstrato, mas ainda assim, algo: uma coisa.

Mas Leibniz intuiu e Einstein explicou que o movimento das coisas não se dá “no tempo”. Tempo “é” o movimento das coisas, é relativo às coisas e não uma coisa em si. Tempo é o fluxo dos acontecimentos. Seu tempo é o que acontece com você e o que você faz acontecer. Em suma, seu tempo é sua vida.
   
Entretanto, todos sentem tempo e vida como conceitos distintos. Tempo é o do trabalho e do dever, vida é outra coisa, que se faz nos fins de semana ou nas férias – o tempo do prazer. Estabelece-se então o conflito entre duas personas: uma moralista, cumpridora dos deveres, atarefada e ocupada; outra hedonista, que desfruta os prazeres, ociosa e livre. Por que? Porque antes mesmo de nos ensinarem que o tempo é uma reta, nos mandam ao colégio. Para aprender?

Não sejamos cínicos: o objetivo último é aprender algo útil para ganhar dinheiro. A mensagem subliminar é clara: a finalidade da vida é ganhar dinheiro. É a alienação do trabalho que Marx descreve: com a apropriação social do seu resultado, a finalidade do trabalho deixa de ser a geração de valor e passa a ser a remuneração.

A vida torna-se uma competição para acumular dinheiro, o trabalho cuja finalidade é deixar de trabalhar, a criação de uma reserva de felicidade hedonista, o ideal de uma euforia perpétua ou do ócio permanente. Loucura? Psicopatia social. Porém cuidado: negar que o tempo é dinheiro, e entendê-lo de forma integral, como vida, pode ser considerada uma sociopatia perigosamente anti-social.

Pode-se administrar o tempo? Ou, por outra: pode-se viver melhor? Existe uma técnica para isso? Existem várias. A filosofia prática, a ética, a psicologia e todas as terapias buscam isso: fórmulas para viver melhor e ser o mais feliz possível. Então, não se controla o tempo em si, mas pode-se adquirir um pouco de autocontrole e agir de maneira mais consciente e racional.

Não existe falta de tempo, o que existe é falta de prioridade. Não se administra a passagem das horas. O que se pode definir é a prioridade dos eventos que dependem da vontade. Essa é a base de toda disciplina moral. Também é importante saber desfrutar o presente e não esquentar demais a cabeça, pois “a longo prazo, todos estaremos mortos” (Keynes).

Jaime Wagner é Diretor da PowerSelf