De uns tempos para cá, passei a me sentir um pouco incomodado pelo termo “recurso”, quando usado na fala dos profissionais de TIC. Vez por outra também me pego usando ele. Faço aqui minha culpa. É difícil mudar paradigmas!

O termo “recurso”, empregado em todos os níveis das corporações qualifica o indivíduo como alguém que desempenha uma atividade em um empreendimento.

No emprego de um determinado termo, em certo contexto, é que podemos identificar sua intenção. A fala carrega escondida por trás da sua aparente ingenuidade a força que as palavras colocam em circulação. É justamente essa intenção velada que me causa o estranhamento que comentei.
 
Peter Senge, na “Quinta Disciplina” afirma que “recurso significa estar disponível para uso”. Me parece algo politicamente incorreto tratar pessoas como se fossem um insumo, um ingrediente da produção ou algo usável. Mais aceitável, talvez, seria tratar as pessoas por “colaborador”.

Teríamos duas vantagens ao fazer essa mudança em nosso vocabulário. A primeira delas é que, não coisificaríamos mais as pessoas - e isso é bom. Estaríamos respeitando a individualidade e a natureza humana de cada um, ao mesmo tempo, dignificando quem se encontrar à nossa volta.

A segunda surge, quase como conseqüência da primeira, traríamos a pessoa para mais próximo da instituição ao considerá-la parte integrante, haja visto que, o termo “colaborador” denota integração, participação, envolvimento, comprometimento.   
 
São pequenos os detalhes que fazem a diferença. Uma grande realização se efetiva a partir de passos contínuos e trabalho minucioso. Saber agregar as equipes e proporcionar a sinergia necessária para que o empreendimento se desenvolva é o dever de todo dirigente, principalmente daquele que se intitula “líder carismático”, e a linguagem é ferramenta indispensável para este propósito.
 
Peter Senge alerta: é um obstáculo muito grande tratar as pessoas como recurso a ser usado pela organização. Este tipo de tratamento, confronta-se com toda a iniciativa expontânea da gestão democrática e impede que iniciativas criativas e inovadoras surjam do interior das próprias equipes.

Dias atrás, participando de um evento na Softsul, sobre como criar e reter talentos nas empresas de alta tecnologia, percebi que circulava entre os participantes a idéia de que a remuneração financeira nem sempre se configura como principal fator de retenção dos profissionais de vanguarda nas empresas.

O sentir-se bem no ambiente de trabalho é que despontou como forte candidato ao topo da lista. Portanto, acreditem, é muito lucrativo trocar o termo “recurso” por “colaborador”. Uma pessoa satisfeita permanece na Empresa por mais tempo, e isso se traduz em níveis mais baixos de stress orporativo e menor custo operacional.

Se não for lucrativo, ao menos, pode diminuir o movimento nas salas dos Psicanalistas. De qualquer maneira prefiro não arriscar – da próxima vez que nos encontrarmos, pode me chamar de “colaborador”, se não for pedir muito, é claro!

* Liandro J. Bulegon é um dos sócios da Aquasoft, parceria da Borland no Rio Grande do Sul