Lembre-se: jornalistas amam números. Foto: flickr.com/wwworks

Tenho ouvido com bastante frequência um amigo preocupado com a postura das empresas brasileiras quanto a sua relação com a mídia.

Trabalhamos juntos na redação de revistas e sites durante alguns anos e faz pouco tempo que esse colega pulou para “o outro lado do balcão”, passando a atuar na área de comunicação corporativa de uma distribuidora de soluções de TI.

Em outras palavras: agora, ao invés de entrevistar, ele sugere entrevistas para os repórteres.

Uma reclamação desse amigo (podemos chamá-lo de Renato, apenas a título de personificação) é que falta certo entendimento por parte dos executivos das empresas sobre a função e postura dos jornalistas e da imprensa. Concordo plenamente com tal afirmação.

Não vale explorar muito isso, mas já vivi situações um tanto quanto absurdas ao longo dos últimos anos como entrevistador. O mais interessante é que são questões que se repetem.

Pois bem, dia desses, navegando pela internet, achei um ótimo artigo escrito por Todd Henry para a Entrepreneur que pode ajudar tanto esse meu colega quanto aos que pretendem dar entrevistas para imprensa.

O texto responde a pergunta de um executivo que seria entrevistado por um jornalista. “Estou um pouco nervoso. Você teria alguma dica?”, indagava o executivo, sobre aquela situação.

Vamos por partes. Atrair a atenção da mídia nesses tempos é uma vitória e, de certa forma, significa que a empresa consegue essa atenção, pelo menos a princípio, está fazendo um bom trabalho (ou o inverso disso, no caso de essa atração ser algo envolvendo algum escândalo ou qualquer outro pepino, mas aí a história é outra). Vamos considerar que essa atenção seja por algo positivo, ok?

Talvez o primeiro, e fundamental, ponto a se saber antes de dar uma entrevista é reconhecer que os jornalistas querem contar a melhor história que puderem.

Para isso, precisarão do melhor subsídio (informação) que você (entrevistado) puder fornecer. Ter isso em mente tornará o trabalho de ambos bastante mais simples.

Mas como preparar-se para uma entrevista? É aí que entram os pontos expostos no artigo. Para dar um pouco mais de dinâmica à leitura, classifiquei em seis tópicos:

1. Sempre que possível, tenha noção do ângulo (abordagem) que o jornalista pretende dar à reportagem. Isso não é nada complicado, basta fazer uma busca na internet para ver o perfil da publicação para o qual o repórter trabalha.

Lá mesmo, encontre outras reportagens publicadas pelo profissional que irá lhe entrevistar. Ter um histórico de artigos que essa pessoa escreveu já basta para ter uma noção sobre a forma como ele trata a informação.

A prova dos nove seria comparar a forma como ele escreveu sobre determinado assunto com outros artigos sobre o mesmo tema publicados em outra revista ou site (sim, muitas vezes a mídia dá as mesmas notícias).

2. Caso não tenha uma assessoria de imprensa ou agência de RP – o que classifico como algo muito importante e que ficaria responsável por essa tarefa que citarei a seguir – pergunte ao jornalista sobre o que se trata a pauta quando ele lhe enviar o pedido de entrevista, se é algo específico sobre sua empresa ou se a entrevista entrará em uma reportagem sobre um tema mais amplo.

Isso ajudará no direcionamento de suas respostas. Muito possivelmente, ele já terá dito o tópico proposto para a entrevista em e-mail de apresentação.

3. Tenha ciência de que tudo que você diz em uma entrevista pode, ou não, ser utilizado em uma reportagem. Portanto, não se empolgue demais ao falar o quanto as coisas estão indo bem e que tudo é maravilhoso.

Lembre-se: a notícia pode ficar online para sempre. Logo, se você disser que a estratégia é abrir uma sucursal no Nordeste que vai puxar um crescimento de 30% em seus negócios em 12 meses, possivelmente esse dado estará disponível na internet para que seja conferido no futuro, assim, é bom que as informações passadas sejam sustentáveis no longo prazo.

4. Seja honesto sobre as coisas que pode e que não pode falar.

Existem poucas coisas mais chatas do que executivo que usa “quite period” para negar-se a dar qualquer informação (e depois ver a informação sigilosa dada com exclusividade para ser estampada em algum veículo de grande imprensa de sua preferência).

Caso não possa abrir algum dado estratégico específico, adote essa postura para sempre, explicando seus motivos.

5. Transmita informações com clareza. Lembre-se que comunicação é uma ciência humana, logo, inexata. Quanto mais dubio sua mensagem for, mais sujeita ela estará a ruídos de interpretação.

6. Conte boas histórias. Pouca coisa é mais legal do que uma bom caso de sucesso. Tenha consciência de que empresas são feitas por humanos e, muitas vezes, os percalços para atingir a glória são tão interessantes quanto a meta conquistada!

A saber: Jornalistas adoram números (apesar de as vezes se atrapalharem com a matemática). Faturamento, investimento, cifras, cifras, cifras! Apesar de, pessoalmente, não concordar muito com essa abordagem, compreendo 100% seu uso, pois trata-se de um jeito simples de trabalhar a notícia e dar ao tema certa relevância.

Por exemplo, um título “Empresa XX investirá US$ 12 bilhões em centro de P&D” chama mais atenção que algo como “Empresa YY terá centro de P&D”.

Algo que o entrevistado deve sempre ter em mente: jamais peça para ler a reportagem antes de sua publicação. Essa é uma prática usual junto a sua assessoria de imprensa, que passa os releases e comunicados para sua aprovação.

Jornalistas, pelo menos os sérios, não enviam artigos para aprovação de suas fontes. A imprensa é livre em um Estado democrático.

Outra coisa que é preciso lembrar é o fato de que a indústria de mídia, especificamente no Brasil e especialmente as empresas de jornalismo especializado (ou seja, que cobrem determinado setor da economia, como varejo, TI, etc) estão com as redações bastante enxutas.

Isso ocorre por diversos fatores, o que demandaria um texto específico para tratá-los. Logo, proponha pautas relevantes e seja objetivo e honesto no tratamento do repórter, afinal, ele está ali fazendo seu trabalho e uma mídia forte ajuda no desenvolvimento de setores.

*Felipe Dreher é jornalista especializado em negócios e TI.