Edivar Queiroz Filho, CEO da Luz Soluções Financeiras.

Cada vez mais, a relevância do setor de serviços na economia brasileira é inquestionável. Em 2012, o segmento foi o único a registrar crescimento, sustentando a variação positiva de 0,9% no nosso Produto Interno Bruto. No ano passado, o setor de serviços representou quase 59% do PIB brasileiro. Enquanto a soma de toda a produção nacional somou R$ 4,848 trilhões, somente o setor de serviços foi responsável por R$ 2,847 trilhões. 

Há 15 anos, lidero uma empresa médio porte do setor de serviços. Desde o início, algo me incomoda e, com o passar dos anos, uma pergunta esta cada vez mais inquieta: quem, afinal, me representa?

O setor de serviços é altamente pulverizado e, por conta das suas inúmeras segmentações, possui entidades de classes e setoriais específicas para cada uma delas. Estas instituições, que fazem um trabalho admirável, buscam o desenvolvimento setorial. Porém, nem sempre, o empresário consegue participar destes processos. Muitas vezes, ele precisa dedicar o máximo de tempo possível ao próprio negócio. Como resultados, os grupos representados ainda são pequenos e não tratam do todo.

Se sairmos do setor de serviços e avaliarmos a indústria, por exemplo,  notamos uma forte presença representativa da FIESP e da CNI. Mas, o setor de serviços, apesar de representar quase 60% do PIB, ainda não conseguiu tamanha força.

Podemos avaliar as empresas brasileiras por porte. Neste caso, as médias empresas também estão órfãs. Em 2011, vimos a criação da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, com status de ministério. Então, volto a perguntar: onde ficaram as médias empresas, aquelas com faturamento entre R$ 3,6 milhões até R$ 48 milhões ao ano? Além das entidades segmentadas, quem representa os nossos reais interesses junto aos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário? 

Como empreendedor, sinto falta de alguém que realmente conheça a realidade dos médios empresários e busque representá-los nas discussões que impactam no desenvolvimento do nosso País. Pontualmente, vemos reuniões entre representantes do governo, incluindo desde a presidência até ministros e ou órgãos públicos, com grandes empresários para debaterem temas macroeconômicos ou diretamente ligados ao desenvolvimento destas companhias. 

Recentemente, foi divulgado que a presidente Dilma Rousseff, pressionada pelo baixo desempenho da economia, pretende criar um fórum permanente de diálogo com empresários. Os convidados principais são os “pesos pesados” da nossa economia.  Porque os médios empresários não são convidados para estas discussões?

Assim como eu, acredito que muitos médios empresários gostariam de acompanhar estas conversas. 

A percepção geral – ou, pelo menos, para a maior parte das cerca 5 milhões de médias empresas do nosso País - é que há uma predisposição pública em ouvir as grandes companhias e seus interesses. Porém, é preciso entender que estes interesses são diferentes dos interesses dos médios empresários, chegando, muitas vezes, a serem antagônicos.

Neste ponto, podemos destacar desde ações pontuais até mesmo o maior acesso a linhas de crédito junto a instituições como, por exemplo, o BNDES. Se a percepção pode estar equivocada, o fato é que apenas 10% das nossas empresas realmente conseguem ter acesso aos financiamentos públicos. A dificuldade burocrática que, em uma empresa grande é diluída, inviabiliza certas ações na média empresa.

Se o acesso ao crédito é difícil, gerenciar a parte fiscal e contábil é ainda pior. O nosso modelo tributário é extremamente complexo, o que acarreta um ônus ainda maior para o pequeno e médio empresário. Nossa legislação trabalhista é, literalmente, do século passado e não condiz mais com a nossa realidade.

Precisamos entender que, se não houver alguém que conheça a nossa realidade e nos defenda nas discussões, dificilmente, os médios conseguirão se tornar grandes. Dificilmente, o Brasil será um país de inovação e, certamente, não teremos as condições mínimas de vermos nascer em solo brasileiro empresas pioneiras como, por exemplo, Google ou Facebook, que começaram pequenas e se tornaram gigantes globais.

* Edivar Queiroz Filho é CEO da Luz Soluções Financeiras