"Eu presto atenção no que eles dizem, mas eles não dizem nada". A frase de Humberto Gessinger nos anos 80 cabe bem em alguns diálogos atuais. Por mais tecnologia de que se disponha, estamos literalmente vivendo a era do "telefone sem fio". Informações são passadas em velocidades alucinantes, e cada fonte, independente das motivações, é tida como confiável, ainda mais coadunando com nossas idéias. Como as informações têm que ser passadas rapidamente - a novidade é o que importa - há pouco tempo para reflexão e checagem. Além disso, aumentou drasticamente nossa capacidade de comunicar.

Outro dia ouvi: "No Japão trabalha-se 14h por dia". Fiquei surpreso. Movido por um saudável ceticismo - não o que duvida, mas o que não acredita - resolvi verificar. Sites para cá, sites para lá e pimba! No Japão a jornada de trabalho semanal é de 42,5h (dado de 1998), o que está longe de 14h diárias!

Descartando a má-fé, há fundamentalmente duas causas para isto: primeiro a distorção natural de interpretação decorrente da cadeia de transmissão de informações. A cada etapa no processo de comunicação pode haver falhas do emissor, do receptor e do meio, gerando distorções. Ao chegar no destino, a informação pode ser bem pouco parecida com a da origem. No exemplo anterior, talvez no Japão as lojas fiquem abertas 14h por dia. No destino significaria 14h por dia de jornada de trabalho.

Segundo, e creio mais importante, pois pode carregar a força da informação referenciada, é a descontextualização. Uma determinada informação pode ser verdadeira em um contexto específico e, talvez, só naquele contexto. Novamente, no exemplo acima, talvez certa categoria profissional no Japão trabalhe 14h por dia. Fora do seu contexto, poderia significar "no Japão se trabalha 14h por dia"!

Em terceiro lugar, decorrência dos problemas anteriores, existe a questão do senso comum: algo repetido tantas vezes publicamente, pode se tornar verdade - já os nazistas sabiam. Durante a década de 80, por exemplo, era repetido incansavelmente: no Brasil se trabalha pouco - muitos feriados, baixa carga horária. Ora, somente a título de ilustração, nós temos no Brasil uma das maiores cargas horárias semanais da América Latina, e comparativamente, um dos menores salários mínimos.

O que fazer? Tenha um saudável ceticismo. Não duvide da pessoa; desconfie da informação, confira. A Internet oferece inúmeras e fáceis oportunidades de verificação. E mesmo neste caso, evite informações vindas de sites apócrifos ou de fontes suspeitas. Procure instituições respeitadas e reconhecidas. Pondere as informações: elas têm sentido? Qual o interesse da fonte no caso? São lógicas? Qual a referência original? Quem, onde e como foram obtidos os dados? Ao agir assim estará ganhando credibilidade e maior informação nas suas ações, já que agir sobre a verdade é bem mais efetivo.

(*) Carlos Alberto Diehl, coordenador do MBA Unisinos.