Se ações como implementar medidas corretivas e evolutivas, posicionar-se no mercado, defender-se da concorrência, aproveitar oportunidades de negócios, estabelecer parcerias, capacitar equipes e aprimorar processos, entre outras tantas, são difíceis de se realizar com um planejamento adequado, sem ele podem exigir esforços hercúleos e investimentos maciços. Ou simplesmente se mostrar inviáveis.

Toda empresa tem necessidades de curto, médio e longo prazos, cujo atendimento exige medidas com diferentes características. Algumas podem ser adotadas rapidamente, enquanto outras, ainda que urgentes, demandam um longo tempo. Esse é um dos motivos por que o planejamento estratégico se torna necessário: há que se identificar o que será necessário no futuro para que medidas que consomem um tempo maior possam ser iniciadas antes. Ou seja, se algo precisa estar disponível em dois anos, e dois anos é o tempo necessário para sua disponibilização, é melhor que se comecem as ações agora, ou ela não estará concluída quando for preciso.

Mas o planejamento estratégico é muito mais que a projeção de ações no calendário. Na verdade, essa é apenas uma pequena etapa do processo. O planejamento estratégico é o momento de reflexão sistemática sobre os negócios da empresa – sua trajetória e situação atual, suas forças e fraquezas, o contexto mercadológico em que está atuando, as oportunidades e ameaças que se apresentam, caminhos alternativos para expansão, benefícios e riscos de investimentos ou desinvestimentos e, finalmente, os próprios anseios e objetivos de seus acionistas.

É essa reflexão que trará à tona aspectos que não são identificados no sufoco vivenciado pelas pessoas em seu dia-a-dia. São riscos não identificados ou não avaliados, oportunidades não mapeadas ou não valorizadas, negócios infrutíferos não interrompidos, despesas desnecessárias não eliminadas, investimentos não realizados nos momentos oportunos, ações da concorrência não antecipadas ou mudanças nos hábitos dos consumidores não monitoradas. Aspectos cuja análise e tratamento pró-ativo são fundamentais para o crescimento sustentável da empresa, quando não sua sobrevivência.

Felizmente, muitas empresas, grandes e pequenas, estão conscientes da necessidade e dos benefícios de um planejamento estratégico metódico. Realizam-no regularmente, tendo desenvolvido seus métodos internamente, ou o fazem com o auxílio de consultorias externas. Mas a segunda variável dessa equação tem sido tão ou mais negligenciada que o planejamento em si – a execução. Estudos mostram que cerca de dois terços das empresas que fazem seu planejamento estratégico não executam o que foi planejado. Não se pode afirmar que jogaram seu tempo e dinheiro fora, pois o simples fato de terem se concentrado em reflexões e análises certamente agregou muito ao entendimento dos aspectos analisados e alinhamento da equipe gestora, contudo, o maior benefício – os resultados – não foi alcançado.

Muitas empresas não realizam um planejamento estratégico anual por uma suposta falta de tempo. E há muitas organizações de pequeno porte que julgam ser esse um processo para as grandes. Dois enganos. Planejamento não toma tempo – na verdade, reduz o tempo total, por reduzir o tempo de execução.  E as pequenas empresas precisarão, tanto quanto as grandes, analisar o ambiente em que atuam e traçar seus mapas para que possam pilotar mais rápido em um mercado cada vez mais ágil e complexo. Enfim, planejamento estratégico não é um ritual. É um processo de gestão que deve ser realizado de forma metódica e sistêmica, iniciando-se imediatamente no momento de maior necessidade – quando não se tem um plano estratégico e tático para a condução dos negócios. Empresas devem identificar hoje as necessidades e oportunidades para os seus negócios e o que precisarão dentro de um, dois ou cinco anos e iniciar a implementação das medidas necessárias com a devida antecedência. Ou correrão o risco de chegar ao futuro como estão hoje – se a concorrência permitir.

* Ernani Ferrari é consultor-chefe e fundador da Mondo Strategies (www.mondostrategies.com).