Muitos argumentos surgem todos os dias na minha caixa de e-mails a favor ou contra a proposta de proibição de venda de armas. Nessas horas, todos possuem estatísticas demosntrando o aumento ou a diminuição da violência em países que adotaram a proibição, ou em locais onde a venda é ampla e irrestrita. E sempre que alguém me aparece com 'números concretos' a respeito do assunto, eu penso: "Tremendo picareta!". Claro que nem sempre todos são assim intecionalmente. Alguns o fazem por desconhecimento da matéria. Mas quem trabalha com números e já estudou estatística sabe o quão fácil é manipular números. Se considerarmos que a violência urbana depende de uma infinidade de fatores além da simples comercialização de armas, a picaretagem só faz saltar aos olhos. Pura tentativa de induzir um raciocínio raso e barato em um tema complexo e histórico.
É uma ilusão achar que a simples posse de uma arma lhe dá igualdade de condições à um bandido que chega de surpresa, que tem o controle da situação e que tem muito menos a perder do que a vítima. Aos que me mostram número de pessoas que mataram seus algozes, eu respondo com o número de pessoas que morreu reagindo a assaltos. E a troca de números se estenderia por dias sem que se chegasse a uma conclusão.
O que me leva a votar SIM no referendo do dai 23 de outubro não é nenhum desses números, nem essas presunções que fazem a respeito do raciocínio dos bandidos de assaltar mais porque 'sabem que ninguém mais tem armas em casa'. Porque em curto prazo, eu acredito que a proibição ou não da venda de armas vá influenciar pouco ou nada nos índices de criminalidade. Nem pra mais, nem pra menos. Voto SIM porque sou a favor do fim dessa mentalidade do 'olho por olho, dente por dente' que tomou conta do país. Essa idéia de que o povo está totalmente desamparado e que precisa fazer justiça por conta própria. Tomando para si a responsabilidade de se defender, a população desencarrega o Estado de fazê-lo, deixa de cobrar uma política de segurança pública coerente e eficaz, assume a tarefa de fazer justiça com as próprias mãos.
Se pensarmos bem, é essa a política que leva cidadãos de todo o Brasil a tirarem vantagem em praticamente toda a oportunidade que surge. São pessoas que não vêem solução a não ser nos seus próprios métodos, na sua própria ética e moral. Seja na falsificação de atestados na hora de fazer a declaração do Imposto de Renda, seja no pequeno suborno a policiais de trânsito para se livrar daquela multa, e assim por diante. Agora querem aplicar essa moral duvidosa na segurança pública. Querem chamar para si a responsabilidade da segurança pública.
Poucos estão mais descrentes no poder público atualmente do que eu. A cada denúncia, fica mais evidente do quão podre está o Estado. Mas ser a favor da liberdade de comprar e portar armas é um passo na direção errada. É conformar-se com a inoperância da polícia, é assistir sentado na sala, com sua arma no colo, enquanto a sociedade se afunda numa selva de abismos sociais. E viva a lei do mais forte, porque se alguém forçar a minha janela, leva chumbo! Pouco importa se além daquele que caiu morto no jardim existem outros milhares, prontos para tentar novamente, até conseguirem entrar de surpresa.
Não é armado de revólveres e espingardas que a população muda um índice de criminalidade. Essa é uma medida paliativa que não apenas dá uma sensação de segurança totalmente ilusória mas também conserva e abastece a Lei da Selva que impera no país e desvia o rumo da sociedade no sentido da verdadeira Justiça.
Guilherme Ko. Freitag