Wilians Geminiano, editor da FonteMidia Americas.
Em 2014 os nossos patrícios do Além Mar comemoram os 40 anos da Revolução dos Cravos.
Um amigo angolano, que vivia em Portugal na época, contou que aquela batalha contra a ditadura salazarista, chamada assim em referência ao seu fundador e líder máximo, Antônio Salazar, um regime de opressão criado em 1933, foi um período de grande efervescência política e o debate ocorria nas ruas, entre famílias, e, por isso, foi o período onde mais teve divórcios entre amigos e... casais. Isso segundo ele, que também separou-se devido ao embate com a mulher.
No Brasil não vivemos um levante do tipo da Revolução dos Cravos, mas depois que as redes sociais conquistaram os brasileiros vivemos sim uma guerra civil, mas digital.
Já abordei este assunto há alguns meses e volto ao tema às vésperas do segundo turno da eleição presidencial porque o embate político pega fogo nas redes sociais e a coisa esquenta ainda mais entre amigos de verdade quando o assunto é política. Muito mais do que futebol, porque diferente do esporte, que mexe com o coração, a política mexe com o bolso, a vida das pessoas.
É por isso que em Portugal houve tantas separações das amizades e matrimônios, onde cada um dos envolvidos ficou de um lado da trincheira para lutar e lá ficou. Separados na política e no amor.
A separação pode não ser levada a cabo na maioria das “brigas” virtuais, mas é visível o ódio manifestado por milhões de pessoas em suas páginas virtuais. E no meio do tiroteio, os amigos e familiares.
Cada um defendendo sua preferência de tal maneira que podemos afirmar que, de fato, a guerra civil vivida na época da implantação do Mais Médicos se prolongou em vários embates e na eleição presidencial ganha contornos ainda mais perigosos. Sim, perigosos porque é visível notar as reclamações e declarações de pessoas que bloquearam ou excluíram pessoas amigas virtuais em sua lista de contatos.
Que eu saiba , ainda não fui “deletado” por ninguém. Tenho em meus contatos pessoas de diferentes matizes ideológicas. Recebo manifestações contra e a favor do governo e oposição. Muitas são radicalmente opostas às minhas opções, mas não creio que no mundo virtual elas possam ser fortes o bastante para justificar um rompimento.
Melhor assim, porque, no mundo digital é fácil manifestar-se contra qualquer coisa. O difícil mesmo é defender com o mesmo empenho suas ideias no mundo, cá do lado de fora, Olho no olho. Cara a cara.
Taí um bom tema para debate: até que ponto, no mundo virtual, somos capazes de mudar nossas vidas?
* Wilians Geminiano é editor da FonteMidia Americas.