O movimento dos políticos pelos corredores de Brasília neste início de janeiro tornou-se curiosamente intenso, mesmo sem convocação extraordinária do Parlamento. Enquanto milhares de novos prefeitos tomavam posse pelo Brasil, as atenções voltavam-se para o plano federal, em especial para as eleições que definirão os novos presidentes das Casas do Poder Legislativo – Câmara dos Deputados e Senado Federal.
No jogo político, um plano estratégico é essencial. Mapear aliados, dissidentes, bancadas e interesses é fundamental para o exercício da boa governança e da prática de relações públicas e governamentais sadias entre os poderes republicanos. Assim, como se entrelaçam interesses, é natural que o Poder Executivo tenha motivação em participar do jogo político que resulta na escolha dos chefes do Poder Legislativo. Entretanto, se assim deseja agir, precisa traçar uma sólida estratégia, com alternativas concretas em casos emergenciais. Tudo indica que o Palácio do Planalto, no jogo de poder, deixou de trilhar o caminho prudente do planejamento no que diz respeito a sua estratégia. Mesmo se emplacar seu nome preferido para a Presidência da Câmara dos Deputados, talvez tenha que pagar um alto preço político.
O principal adversário do Planalto, curiosamente ou não, mais uma vez é o próprio partido que o levou ao poder – o Partido dos Trabalhadores. O exercício do poder tem, desde o primeiro momento, evidenciado suas fissuras, disputas e inconformismos, afinal, já foi dito que governar é criar descontentes, neste caso, em suas próprias hostes. Parlamentares ressentidos e preteridos pelo Planalto encontraram na eleição da mesa a melhor oportunidade de mostrar ao governo sua importância. Assim, se o candidato petista-governista é Luiz Eduardo Greenhalgh, contrariando a tendência da base do partido, os deputados inconformados encontraram em Virgílio Guimarães, candidato preterido pelo Planalto, uma forma de mostrar sua força, instalando um racha no partido. Vale lembrar ainda que alguns deputados petistas radicais gostariam mesmo é de ver Walter Pinheiro indicado.
Entretanto, este não é primeiro nem o único empecilho criado pelo Partido dos Trabalhadores. A eleição para a Presidência da Câmara de Vereadores de São Paulo evidenciou a falta de unidade do partido. O acordo entre PT e PSDB foi quebrado por uma leva de vereadores alinhados com Marta Suplicy. Como se isto não fosse o bastante, a bancada do PT ainda entrou com uma representação no MP contra José Serra. Tudo isto gerou um desconforto que pode levar o PSDB a retirar o apoio ao candidato petista-governista para a Câmara Federal. Com o PT rachado e sem o apoio do principal partido da oposição, a candidatura de Greenhalgh pode começar a desabar.
Assim, naturalmente nomes alternativos começam a surgir, desde o principal nome da oposição, José Carlos Aleluia, até o de Michel Temer, da ala oposicionista do PMDB, passando pelo líder do PTB, José Múcio Monteiro. Enquanto multiplicam-se os candidatos e a insatisfação dos parlamentares petistas, multiplicam-se também os obstáculos e problemas que devem ser enfrentados pelo Planalto.
Na medida em que o governo encontra problemas no processo de troca de comando na Câmara dos Deputados, a reforma ministerial se apresenta como moeda de troca para que sejam angariados os apoios necessários para a vitória do candidato palaciano. Este talvez não fosse um procedimento esperado pelo Planalto, entretanto, a inabilidade na condução do processo talvez leve a situação para este ponto. O governo deve lembrar que articulações vitoriosas são construídas por meio de interlocutores confiáveis e sólidos. No mais, o Planalto pode seguir o roteiro de uma empresa de relações governamentais: informação, agenda, preparação e antecipação. Esse é o segredo do sucesso, pelo menos no campo político.
(*) Márcio Chalegre Coimbra, é advogado, sócio da Governale - Políticas Públicas e Relações Institucionais (www.governale.com.br). Habilitado em Direito Mercantil pela Unisinos. Professor de Direito Constitucional e Internacional do UniCEUB – Centro Universitário de Brasília. PIL pela Harvard Law School. MBA em Direito Econômico pela Fundação Getúlio Vargas. Especialista em Direito Internacional pela UFRGS. PhD em Direito Internacional pela Universidade de Winsconsin. Conselheiro do Instituto Liberdade. Vice-Presidente do Conil-Conselho Nacional dos Institutos Liberais pelo Distrito Federal. Sócio do IEE - Instituto de Estudos Empresariais. É editor do site Parlata (www.parlata.com.br) e articulista semanal dos sites www.diegocasagrande.com.br e www.direito.com.br. Possui artigos e entrevistas publicadas em diversos sites nacionais e estrangeiros (www.urgente24.tv e www.hacer.org) e jornais brasileiros como Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Zero Hora, Jornal de Brasília, Correio Braziliense, O Estado do Maranhão, Diário Catarinense, Gazeta do Paraná, O Tempo (MG), Hoje em Dia, Jornal do Tocantins, Correio da Paraíba e A Gazeta do Acre. É autor do livro “A Recuperação da Empresa: Regimes Jurídicos brasileiro e norte-americano”, Ed. Síntese - IOB Thomson (www.sintese.com).