O que os distingue dos demais é que eles só sabem trabalhar com talentos. Eles sabem administrá-los, os atraem com mais facilidade e, por serem líderes carismáticos, conseguem conviver com estes talentos independentemente de salários e benefícios que os possam levar as outras empresas.
Questionamos alguns “talentos” para entender por que eles reagiam melhor a estes líderes e, principalmente, o que os atraia tanto no trabalho. As respostas foram fascinantes. As idéias deles são diretas e bem formuladas, o que não quer dizer que sejam simples. O comportamento convencional dos executivos, aquele vendido em livros e congressos, é dito convencional por uma simples razão: por ser fácil. É mais fácil acreditar que todos os funcionários têm um potencial. É mais fácil imaginar que tendo paciência e conhecendo as fraquezas de cada um se pode conseguir, sempre, um resultado melhor. É mais fácil acreditar que tratando todos iguais, sem favoritismo, você está incentivando a equipe. O comportamento convencional é confortante, sedutor e fácil porque está respaldado num dito bem comum: as famosas fórmulas do sucesso.
O conhecimento revolucionário dos grandes executivos não é assim. O caminho que eles impõem é muito mais perfeccionista. Exige disciplina, foco, confiança e – talvez o mais importante – a vontade de se individualizar cada vez mais. A equipe é feita de indivíduos e cada um terá que, mais e mais, até a exaustão, testar seus limites sem se importar com nenhum padrão. O grande executivo incentiva o individuo, constrói preferências, exige resultados inesperados e acredita no sucesso como resultado do aperfeiçoamento de cada um. A equipe é múltipla, tem caras diversas, objetivos que só no final vão se encontrar.
O grande executivo quebra todas as regras e não tem medo do caos – impõe ritmos em lugar de cronogramas e a excelência tem que ser sempre alcançada. Pela sua liderança, eles transformam talentos em trabalhadores com foco, pois, como nos disse um desses executivos, o segredo era fazer com que seus talentos se sentissem confortáveis com o que eles eram. Não tente transformar sua equipe em seus clones, respeite a individualidade de cada um e mantenha o foco no que estão fazendo. Não tenha medo de criticar, irritar-se com os erros. Seja humano, não tente fazer política – todos notam que é falso –, pois o conforto do relacionamento nasce muito mais do conflito que da anuência.
Outro nos disse algo muito simples: Não busque ser exemplo de nada, eles vão gostar mais de conhecê-lo como você é. Não tenha medo de exigir. Convença-os que o ótimo é pouco e faça terem orgulho do resultado. Respeite as loucuras de cada um, mas não respeite nunca as mentiras e os comportadinhos – esses jamais terão talento para lhe emprestar.
Em outubro de 1707, a Inglaterra, a maior e mais famosa armada de navios do mundo, perdeu toda uma esquadra comandada pelo almirante Clowdisley Shovell, porque ele calculou mal sua posição no Atlântico e afundou seus navios de encontro à costa da Sicília. Todos seguiram o almirante e um a um foram se quebrando nas rochas e nas pedras das ilhas. Erro de cálculo? Sim, explicável, porque em 1707 não se sabia ainda medir com exatidão a longitude, apenas as latitudes eram corretas. A disciplina, acima de tudo, levou todos a seguirem cegamente o líder e o resultado envergonhou por anos uma nação.
Concluindo, a disciplina cega mata o indivíduo e muitas companhias ainda não sabem administrar seus talentos. Com certeza, depois do quarto ou quinto acidente alguém notou o erro, mas faltava liberdade para tomar decisões inesperadas. O talento surge no inesperado, quando ele muda o rumo de um projeto, quando influencia os demais e quando se sente respeitado. Na empresa, o que faz a diferença são os talentos, eles vão ditar o nível de excelência do que você produz e, em ultima análise, vão fazer a diferença.
* Max Gonçalves é presidente da Fenasoft, considerada a maior feira de Tecnologia do Brasil, que terá sua próxima edição no mês de maio, em São Paulo.