No dia 18 de março de 2004, durante pronunciamento na inauguração de um restaurante popular da Coca Cola em Belo Horizonte, o presidente Lula declarou: "Eu passei tanto tempo da minha vida, achando que ser antiamericano era não beber Coca-Cola. Depois eu fui ficando mais maduro e percebi que, quando a gente levanta de madrugada, e tem uma Coca-Cola gelada na geladeira, não tem nada melhor". Pois o que sobrou de antiamericanismo no Lula maduro é mais nocivo do que não tomar Coca-Cola.
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil, sob o comando de Celso Amorim nos dá uma pista ao eliminar o domínio do idioma inglês como uma das condições preliminares para acesso ao Instituto Rio Branco. Suponho que se trate de um chute na virilha de Bush e outro no tornozelo de Blair.
Camões agradece, mas dispensa a cortesia. Nossos futuros diplomatas, informa-se, aprenderão inglês posteriormente, se e quando forem ocupar postos no Exterior. Outra etapa dessa excepcional qualificação inclui uma prova com o secretário-geral do ministério, Samuel Pinheiro Guimarães. Nela os futuros diplomatas terão que demonstrar conhecimento pessoal sobre o conteúdo de três livros. Inteiros. É mole? Exatamente oito centímetros na prateleira. E não apareçam com um quarto livro. Aí deve ser o examinador quem se atrapalha. Ah! As três obras são em língua portuguesa, claro: "Brasil, Argentina e Estados Unidos", de Moniz Bandeira, obra prefaciada pelo próprio Samuel Pinheiro Guimarães; "Pensamento Econômico Brasileiro", de Ricardo Bielschowsky e "Biografia do Barão do Rio Branco", de Álvaro Lins.
Se o amadurecido presidente não fala corretamente nem o idioma nacional e comanda nossa política externa, o Itamaraty pode, muito bem, abrir as portas para quem ler três livros. E se o sujeito for mais preparado terá problemas. Incorrerá em suspeita de pertencer à elite, condição desprezível, cuja eliminação da vida diplomática constitui a declarada razão principal das simplificações introduzidas pelo Itamaraty em seus exames de seleção.
Filho de visconde, ele próprio barão do Império, poliglota, jornalista, historiador, professor, diplomata e membro da Academia Brasileira de Letras, José Maria da Silva Paranhos Júnior foi o criador da diplomacia nacional. Pois é esse péssimo exemplo de brasileiro, esse grã-fino, que dá nome ao Instituto Rio Branco. Já passou da hora, sob a batuta de Lula e Celso Amorim, de lhe conceder novo patrono. Sugiro Instituto Jeca Tatu.