O Fórum Social Mundial fornece um bom exemplo de que as ideologias marxistas, malgrado o fracasso de todas as suas experiências, ainda movem multidões.
Em princípio, nada lhes seria mais desalentador nem comprometeria tanto sua propagação quanto o exercício do poder. Quando isso ocorre, tem-se sempre uma dentre três possibilidades: ou a ideologia vai para as cucuias, ou se implantam regimes totalitários que produzem o colapso da sociedade, ou não se implantam tais regimes e o colapso ocorre do mesmo modo. Dado que não há exceção na história, cabe indagar como tal ideário, com tudo para estar sepultado junto com o nazismo e o fascismo, continua a incendiar a imaginação de tanta gente. "Eppur si muove"! Como é possível?
Após anos de debates sobre temas políticos e ideológicos com militantes e intelectuais alinhados com essas correntes de pensamento, creio poder apontar as causas essenciais de sua resistência e mobilidade. De um lado estão problemas reais de natureza política (quando a política não funciona, seja no plano nacional, seja no internacional, fica fácil confundir as coisas e atribuir ao "modelo" a causa dos males que ocorrem). De outro está a enorme desinformação, desconhecimento de história e despreparo que caracteriza o cidadão comum, vulnerável, portanto, a quaisquer tolices que lhe proponham com fisionomia vantajosa. De outro, ainda, estão as estratégias adotadas pela esquerda nos contraditórios que enfrenta.
Também elas são, basicamente, três. A mais freqüente é a que foi ensinada por Brecht a seus camaradas em Die Massnahme: "Quem luta pelo comunismo tem de poder lutar e não lutar; dizer a verdade e não dizer a verdade; manter a palavra e não cumprir a palavra, etc., etc., etc". E ele tinha razão. O mentiroso treinado é o mais difícil adversário num debate. Em seguida vem a estratégia da desqualificação do opositor. Caluniam-no e lhe atribuem as piores intenções, sujeitando-o a um paredón moral. Eis o motivo pelo qual se tornaram peritos em destruir reputações de modo tão impiedoso quanto o usado pelos seus famosos tribunais revolucionários para executar oponentes. Por fim, vem a estratégia de atribuir ao adversário algo que ele não disse e atacar essa afirmação com mil demolidoras razões, dando a impressão de que, ao refutarem o que não foi dito, estão contestando o que foi dito e é irrefutável.
Nada muito ético, como se vê. Contudo, quando se conhece a técnica usada, fica mais fácil enfrentá-la.
(*) Arquiteto, político, escritor e presidente da Fundação Tarso Dutra de Estudos Políticos e Administração Pública.