Nos últimos meses, quem está convivendo com o mercado de Tecnologia da Informação (TI) pode observar de uma maneira geral um aquecimento dos negócios, principalmente na área ligada a serviços de offshore outsourcing (prestados fora dos países de origem). Um dos fatores que está mexendo e aquecendo o nosso mercado é a vinda de empresas multinacionais para os parques tecnológicos do Estado com o objetivo de estabelecer centros de desenvolvimento de software e atuar em pesquisa e inovação. Este movimento é justificado pela possibilidade de maiores ganhos financeiros por parte dos grandes contratantes de serviço de TI, onde o Brasil figura como a “bola da vez”. Além dos nossos custos atrativos, também atribui-se a isso a qualidade satisfatória de nossos profissionais, o fato de possuirmos um time zone muito similar ao dos Estados Unidos, principal contratante de serviços do setor, uma cultura ocidental e de um ambiente criado ao estímulo da inovação, disponibilizado em nossas universidades através de seus centros de pesquisa.

A soma desses fatores tem atraído empresas e serviços para o Brasil e o Rio Grande do Sul vem constantemente candidatando-se a receber e aportar essas empresas, como temos acompanhado nos principais veículos de comunicação do nosso setor. A vinda de multinacionais traz mudanças, como também repercussões e contrapontos com visões e opiniões diferentes entre os empresários locais. Cada um com justificativas para suas argumentações, opiniões essas que vão da contrariedade a aceitação. Um exemplo foi a repercussão gerada pela vinda da multinacional SAP para o pólo de São Leopoldo, onde alguns empresários externaram suas opiniões sobre o fato.

Diante deste cenário, devemos enfatizar que nunca foi tão necessário o empresário de TI planejar suas ações como no momento atual. Isto porque o mercado mudou, segmentou-se e especializou-se - um exemplo disso é a área de testes e desenvolvimento de software, contando com diversas técnicas e novas ferramentas disponíveis. A segmentação trouxe a especialização que, por conseqüência, a necessidade de investimentos constantes no aprendizado das melhores práticas no segmento onde cada empresa atua, gerando assim uma das grandes dificuldades para a maioria das empresas ligadas ao nosso setor: o de captar e realizar investimentos. O censo de TI realizado pelo Seprorgs no ano de 2005 comprova o perfil das empresas de TI do Estado e nos informa o porte da maior fatia deste mercado: são empresas pequenas, na maioria com poucos profissionais, com baixo faturamento e, conseqüentemente, com baixa capacidade de investimento em qualificação.

Perante a esta mudança a qual as multinacionais estão se instalando no País, absorvendo mão-de-obra especializada e a necessidade de investimento para tornar a empresa competitiva torna-se cada vez maior, é comum para nós empresários fazermos a pergunta: Para onde ir? Quais são os caminhos? Continuar atuando num segmento de mercado que está muito competitivo? Apostar no desenvolvimento de produtos, achando que esse ano vai ser diferente? Atuar localmente, deixando para o ano que vem um plano de expansão para outras regiões?

O momento é de reflexão das nossas estratégias que devem ser pensadas, monitoradas e revisadas, principalmente no mercado de TI, que é constante a velocidade de inovação e a quebra de paradigmas. Ser ágil nas decisões e ações é fundamental para acompanharmos essa mudança.

Defina e busque responder perguntas importantes para o seu negócio, por exemplo: Em quê eu vou inovar? Como vou me posicionar no mercado? Quais são as minhas metas? Quais são as estratégias para alcançá-las? Quais são as alternativas para buscar uma expansão do meu negócio? Qual a rentabilidade esperada?

Essas e outras perguntas precisarão ser respondidas mais cedo ou mais tarde, afinal de contas à apresentação de um plano de negócios, necessário para qualquer captação de recursos financeiros para investimentos, precisa ter isso claro, definido e escrito. Um bom plano de negócios, além de habilitar a sua empresa a investimentos também pode dar a clareza necessária de como atuar em um mercado formado por ameaças, incertezas e desafios. Isso vai exigir de nossos empresários do setor, um planejamento e, se já é difícil conviver e sobreviver às mudanças atuais planejando, imagine enfrentar isso sem essa importante ferramenta.

Um conselho para nossos empresários: invista na especialização de sua mão-de-obra, comemore as conquistas obtidas e distribua prêmios quando os resultados forem alcançados. Isso vai ajudar a não perder os talentos para a concorrência. A falta de recursos humanos especializados vai ser (e para diversas empresas já é uma realidade) um grande gargalo para o crescimento.

Roberto Mazzilli é diretor do Seprorgs