O mundo vive uma revolução: a convergência digital. Essa expressão significa uma mudança nas organizações, que se dedicam a desenvolver equipamentos e programas capazes de converter texto, som e imagem em sinais digitais passíveis de serem transmitidos e recuperados por qualquer equipamento: de telefones celulares a pagers e de grandes computadores a notebooks.

Com o objetivo de permitir essa integração, os países desenvolvidos deram prioridade ao investimento técnico: infraestrutura, integração das redes de comunicações rápidas, interoperabilidade (troca de arquivos entre diversos equipamentos), segurança para serviços financeiros e protocolos para grande volume de transferência de dados para sistemas de manufatura globais distribuídos ao redor do mundo. Não por acaso, uma série de iniciativas denominadas GII-GIS (Global Information Infrastruture – Global Information Society), voltadas para dar suporte físico a essas redes, foram feitas pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (http://www.oecd.org/dataoecd/50/7/1912224.pdf).

A demanda por soluções inovadoras reposicionou as prioridades que, aos poucos, passaram de técnicas para as de desenvolvimento de serviços e conteúdos. As empresas começaram a viver um novo desafio: como direcionar a convergência digital para convergência de negócios. Convergência de negócios significa um desenho mais ousado, com um ciclo de desenvolvimento de produtos mais rápido cuja base é o conhecimento. As empresas competem na inovação, na inteligência (diversas funcionalidades para os clientes) e no tempo de lançamento. Isso quer dizer: lançar primeiro, criar referências na cabeça do consumidor (particularmente os mais jovens), segmentar produtos, integrar cada vez mais rápido os recursos de processamento de jogos, telecomunicações e processadores. A inteligência de negócios de tecnologia no século XXI exige a constituição de agências – representantes de empresas, organizações de pesquisa, fundos de fomento e Governo - voltadas para a integração do conhecimento entre as organizações envolvidas.

Os celulares são um grande exemplo. No início, eles orientavam-se apenas para a transmissão de voz, posteriormente, incorporaram diversas funcionalidades: imagem, fotos, vídeos, compra de músicas, meio de pagamento, serviços bancários, senhas para abertura de residências e condomínios e até o monitoramento médico a distância (Japão e Coréia). Esse exemplo é útil para a compreensão da sofisticação dos instrumentos de gestão de tecnologia, que anteciparam tendências e organizaram esforços entre os componentes das agências (desde a regulação, estímulo e compra de novas tecnologias), para o desenvolvimento de novos produtos e serviços.

O Japão é um exemplo a ser considerado. O Ministério de Negócios Internos e Comunicações do país elabora uma agenda com os principais pontos e responsabilidades das empresas e organizações de pesquisa; identifica o potencial das tecnologias emergentes e realiza duas pesquisas. A primeira avalia o desempenho da agenda por amostragem entre pessoas físicas. A segunda verifica como os empresários executam a agenda nas suas empresas. As duas pesquisas foram publicadas simultaneamente nos relatórios anuais – chamados de White Papers -  divulgados para os representantes de empresas, universidades e para o próprio governo, a fim de gerar redes de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e serviços. Atualmente, o país se dedica ao u-Japan (“u” de ubiquidade) previsto para atingir a sua plenitude em 2010, quando as Tecnologias das Comunicações e Informação (TCI) serão largamente difundidas e permitirão qualquer pessoa conectar redes a qualquer hora, em qualquer lugar, de qualquer plataforma, além de viabilizar dispositivos eletrônicos - celulares, PDAs e outros - de baixo preço, adequados ao acesso de diversos conteúdos e serviços. (http://www.soumu.go.jp/joho_tsusin/eng/whitepaper.html)

Em maiores detalhes, o esforço para identificar as tendências de desenvolvimento desejadas pelo público japonês está ligado à consolidação do conceito de ubiquidade para o conjunto do país. Produtos e serviços identificados serão integrados em uma vasta teia de possibilidades e combinações de negócios para desenvolvimento de software e hardware.

Demerval Luiz Polizelli é professor da FIAP, especialista em Comunicações pela Escola de Comunicações e Artes ECA-USP, mestre em Ciência Ambiental pela USP, Doutor em Sistemas de Aprendizagem pela UNICAMP e Pós-Doutor em Administração pela FEA-USP