Contrariando o que aconteceu com setores como o automobilístico, financeiro, de construção civil, mineração, entre outros - que sofreram claramente os impactos negativos da crise econômica mundial - o mercado brasileiro de telecomunicações não só não acompanhou essa curva descendente nos negócios como também vem demonstrando certo otimismo a partir da perspectiva de prestadores de serviço e também fabricantes.

Para tentar explicar o porquê disso, vou defender um argumento que já é realidade no dia-a-dia do mercado corporativo em geral: as empresas, sejam elas do porte que forem, não podem deixar de ter acesso banda larga. Para aquelas que têm mais de uma unidade física, é inviável que não exista uma rede privativa virtual interligando as diferentes localidades e permitindo um acesso atualizado e remoto aos dados e informações da companhia. Para as que têm apenas um endereço, acessar a Internet é um requisito básico para o funcionamento. Ou seja, telecom não é mais luxo para o segmento corporativo, não é algo que as empresas podem escolher se querem comprar ou não. É questão de necessidade básica, de sobrevivência. Em resumo: telecom ganhou status de Utility no ambiente corporativo atual.

Se alguém duvida do argumento, basta presenciar a cena de um dia de trabalho em qualquer empresa em que a Internet tenha caído. Na verdade, se a rede cai, as pessoas simplesmente não trabalham, assim como acontece quando cai a energia elétrica. Sem luz ou sem Internet, a sensação de que nada de importante pode ser feito até que o problema seja resolvido é a mesma! Quem não se lembra do apagão digital que atingiu todo o Estado de São Paulo – empresas, órgãos públicos e privados - no meio de 2008?

Contar com serviços de telecomunicações é inerente à atividade empresarial e é por isso que esse mercado tende a se manter aquecido mesmo em épocas de turbulência econômica. As empresas sabem que obrigatoriamente terão que reservar uma parte de seu orçamento mensal para os serviços de telecom. Além disso, é comum precisarem de cada vez mais velocidade de acesso para suportarem suas atividades e muitas já contratam um link redundante, no caso do primeiro falhar. Estar sem Internet ou sem comunicação matriz/filial significa perder produtividade e isso é exatamente o que nenhuma corporação deseja.

A própria legislação imposta às empresas sinaliza que estar no mundo digital é um caminho irreversível e não uma questão de escolha. O SPED, o novo Sistema Público de Escrituração Digital que entrou em vigor no ano passado, é só mais uma prova disso. Como se sabe, pelo SPED os contribuintes deixarão de repassar informações aos fiscos nas diversas formas existentes hoje, como os livros fiscais, em papel, e adotarão arquivos digitais online.

Um relatório divulgado recentemente pela ITU (International Telecommunication Union) aponta que o mercado global de banda larga vai crescer em 2009, apesar da crise econômica, e que em países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) e no México esse crescimento será ainda mais acentuado devido ao potencial de expansão. De acordo com o relatório, a banda larga é peça-chave para estimular o crescimento econômico do país, não só pela demanda direta gerada, mas também devido a ganhos com a criação de novos mercados para aplicações e conteúdo.

Os prestadores de serviços de telecom que entenderem essa realidade de mercado e souberem atender com eficiência às necessidades de cada cliente com certeza vão ocupar posições de destaque nesse segmento. Potencial de mercado existe, assim como a possibilidade de expansão dos serviços.

Obviamente, sabemos que em situações de crise extrema não existe setor 100% imune a perdas. Caso o cliente “quebre”, ele consequentemente deixará de ser cliente, reduzindo assim a receita do fornecedor. Os serviços essenciais ao mercado corporativo, no entanto, conseguem se manter resistentes por mais tempo. São, em outras palavras, os últimos a cair. Isso explica porque as telecomunicações, na condição de serviço básico, até agora vêm mantendo o otimismo perante a crise. Fica, portanto, a seguinte reflexão: se o seu negócio foi promovido ao statusde Utility não é preciso ter tanto medo assim da crise...Telecom está confiante!

Alexandre Costa e Silva é presidente da Neovia