Um intelectual chamado Walter Benjamim, da Europa do entre-guerras, escreveu um texto que viria se tornar um clássico nos estudos culturais do Ocidente. Dizia ele, “as infra-estruturas mudam mais depressa que as super-estruturas”. Em outras palavras, afirmou que os equipamentos evoluem mais rápido que os nossos hábitos.

Se levarmos em conta que, em um chip eletrônico o número de transistores dobra a cada 18 meses, como afirma a Lei de Moore, não temos como tirar a razão dele.

Fica fácil  identificar esse descompasso quando olharmos a nossa volta, e percebemos a quantidade de equipamentos que nos cercam. Quantas dessas engenhoca aprendemos a usar? Quantas viraram hábitos? E quantas já foram descartadas?  

Escrevo neste tom de estrangeirismo por pertencer a geração X, aquela das pessoas nascidas entre 1965 e 1980, e que acompanhou a gigantesca escalada do mercado tecnológico e a disponibilização destes dispositivos ao grande público, transformando radicalmente nossas vidas analógicas. Diferente da geração Y, em que as pessoas nascem neste ambiente digital, portanto, nativos do novo mundo conectado.

Há uma história, de que as crianças desta geração não nascem mas estréiam frente a uma câmera. Por conta disso, no nascimento do meu filho em 2004, optamos por não filmar. Acompanhei presencialmente, sem registrar o momento para a posteridade, o nascimento de um legitimo Geração Y.

Não desejei acompanhar o parto ao estilo daqueles turistas que fotografam tudo, e que acabam por vivenciar o passeio através da lente da máquina fotográfica ou filmadora. Um resquício de conservadorísmo talvez? Pode ser, mas o fato é que ele, hoje com pouco mais de 5 anos, manipula meu Notebook com tanta desenvoltura que chega a assustar.

Outro resquício deste conservadorismo foi o do Cineasta alemão Wim Wenders, falando sobre seu problema de visão, disse no documentário “Janelas da Alma”, dos diretores João Jardim e Walter Carvalho,  que ao experimentar lentes de contato, não conseguiu se acostumar sem os frames que os óculos lhe impunham. Uma visão ampla do mundo sem um recorte da realidade era insuportável, segundo a concepção dele. Depois de uma breve experiência com as lentes, voltou a usar seus velhos óculos!

Trocar de equipamento é muito tranqüilo e as vezes até desejável, se não estivermos falando sob a lógica dos dois exemplos anteriores. Uma conexão discada por uma 3G, ou um celular antigo por um novo Blackberry é uma das coisas mais excitantes do mundo.  

Difícil, para um estrangeiro, é assimilar os hábitos que vem junto com estas modernidades! Mudar as manias, os trejeitos as imagens que fazemos de nós mesmos ou dos outros é o que o intelectual afirmou que demora muito.

O estranhamento entre as gerações é natural. A imagem do meu filho usando um computador, e pela internet jogando no site da Discovery Kids, é coisa de ficção, quando comparada a realidade da minha infância. Julgar se é melhor ou pior, me parece uma certa perda de tempo.  

A meu ver, a verdade não esta em que tipo de equipamento dispomos, mas no uso que fazemos do potencial disponibilizado por ele. Se pensarmos assim, ultrapassamos a questão das gerações e nos concentramos nas necessidades de evoluir e aprender sempre.

Mais produtivo pra mim, em vez de rejeitar o inevitável, é criar situações em que possamos nos apropriar deste potencial para melhor acompanhar as gerações futuras. É preciso dominar a técnica e educar. Educar para as novas mídias.  Em outras palavras precisamos saber jogar fora o que não nos serve mais, aceitar as novidades que nos beneficiam, e respeitar cada indivíduo em seu tempo e ritmo de aprender.

Portanto, tanto as lentes de contato, como óculos ajudam a melhorar a visão. Mas o que fez a diferença foi o desempenho a que o cineasta chegou. Sendo assim é preciso admitir, um filme de criança nascendo pode ser belíssimos, mas, de qualquer forma, o instante único também é lindíssimo - precisamos concordar!

Liandro Bulegon é sócio da Aquasoft, parceira Embarcadero no Rio Grande do Sul.