Tenho um número de celular que faz parte do plano corporativo da empresa, juntamente com algumas outras linhas. Por volta de dois anos atrás, insatisfeitos com a Brasiltelecom, optamos por mudar o plano para a Claro, que na época prometeu melhores benefícios. Pareceu ser mais atraente. Mesmo sem a portabilidade mudamos, na esperança de melhorar o atendimento.

A história do suicídio começou a alguns dias atrás. Meu k850i, com câmera fotográfica de 5M pixels, que escolhi neste novo plano, resolveu se jogar do bolso da minha jaqueta.

No momento em que atravessava a rua em frente da minha casa o celular tocou. Mais que depressa enfiei a mão no bolso e retirei o aparelho. Num daqueles instantes intrometidos entre a distração e a surpresa, meu k850i se jogou no espaço, com a digna determinação de quem desejava voar.

Infelizmente os fatos seguiram a trajetória oposta, e ele se estatelou no asfalto duro. O tempo que levou da minha mão ao chão, foi o suficiente para milhões de aflições percorrem meu corpo. Meus dados, pensei! Como ficarão meus dados, as fotos, a lista de contatos?

No instante do primeiro impacto ainda havia esperança. Mal sabia o que futuro me reservava. Na segunda vez que ele bateu no chão, rapidamente passou pela idéia: não conseguirei mais fazer ligações, a lente riscou, não tirarei mais fotos, eu tenho arquivos de dados lá, e não tem backup. Estou perdido!

Entrei no turbilhão das sensações para tentar achar uma outra razão para viver. Enquanto o momento do terceiro impacto se aproximava em alta velocidade eu rezava para que tudo aquilo fosse um pesadelo. Mas antes que este instante chegasse, um pneu violento e assustador, de um carro em alta velocidade, surgiu do nada e esmagou meu pobre aparelhinho contra aquele asfalto ordinário.

Virou um pastel, tive que recolhê-lo com uma pazinha de lixo que o vizinho, solidário, trouxe correndo. Quase perda total. Minha sorte foi que, o Chip e a memória ficaram inteiros. Caso contrário vocês estariam lendo o texto com o seguinte título: A história de dois suicídios!

Ainda abalado com o incidente, corri para a empresa, a fim de pegar um daqueles celulares de R$1,00 que vieram junto com as outras linhas do plano e que estavam sobrando.

Bem, depois disso nada mais foi a mesma coisa. Este celular de R$1,00 não comporta cartão de memória. Minhas fotos estão todas presas lá até agora. Não tem câmera fotográfica descente. E o mais irritante, minha lista de contatos, lindamente ordenada no K850i, virou uma sopa de letrinhas neste outro. O Felipe Dal' Pizzol virou Dal Pi;Felipe/1 ; o Eduardo Seganfredo virou Segan;Eduardo/1. Tem alguns, que até hoje tento decifrar, é o caso do Star(Fe;Blue/3.   

Mas tudo bem, dá para ir levando por algum tempo. Há! Outra coisa irritante, e que me ocorreu no momento é, no banheiro da minha casa o sinal desapareceu. Ou por culpa deste novo celularzinho, ou por conta da operadora.

Imagine só, em pleno centro de Porto Alegre não posso falar ao celular no banheiro da minha casa. Há quem diga que esta não é a melhor peça da casa para se falar ao celular. Concordo, e pode apostar, enquanto não trocar um dos dois, nunca falarei com você do banheiro da minha casa.

Umas duas semanas atrás, resolvi contatar uma das revendas da Claro. Os caras foram até a empresa, foram muito atenciosos, nos atenderam muito bem, pegaram nosso número de contrato. Avaliaram nossa conta telefônica.

Identificamos que uma das linhas estava em desuso. Justamente aquela da qual eu roubei o celular que uso agora, etc, etc, etc. Comentei também que gostaria de adquirir um pacote de dados para a minha linha.

O amável gerente da conta retornou a dias atrás dizendo que poderiam, sim me dar um telefone novo, se eu anexasse mais uma linha ao plano. Respondi a ele, nos já temos uma linha em excesso - Adiciona o pacote de dados, e me dá logo um celular novo, para eu voltar a ser feliz novamente.

De maneira nenhuma, me respondeu ele. Por conta do contrato, e mais um monte de justificativas emocionantes eu só poderei ter meu celular reposto se uma linha a mais for anexada ao plano.

Senhores, eu sei que uma relação comercial é uma vias de duas mãos, mas, mais uma linha não é a minha necessidade. Minha necessidade é um celular decente e um pacote de dados adicional. O pacote de dados, por sinal, nem era tão urgente assim. Mas vá lá, eu adiciono o pacote de dados ao plano, mas outra linha não tem o menos sentido. Não precisamos dela - não mesmo.

Existe um texto clássico na área do Marketing chamado, “Miopia em Marketing”, que basicamente fala do erro da visão estratégica do negócio. Talvez por causa desta miopia eu não consiga fazer uma ligaçãozinha do banheiro da minha casa.   

Celular é commodity! Não consigo entender uma operadora ganhar dinheiro vendendo aparelho de celular. Operadora ganha dinheiro fazendo as pessoas gastarem minutos falando umas com as outras. Portanto, quanto mais aparelhos distribuir, mais vão lucrar. E vamos combinar! Comprar lotes de aparelhos aos milhares sai barato cada unidade, não sai?

Com isso, lembro de um causo que ouvi na juventude. Conta-se que lá pelo interior do nordeste, alguns coronéis distribuíam radinhos de pilha de brinde a população. Porém, estes radinhos vinham com o Dial colado na emissora de propriedade destes coronéis. E com cola forte, pra ninguém descolar. Assim elegiam-se com mais facilidade. Não sei se é verdade, mas é muito interessante.

Pensando nisso lembro da portabilidade. O que a portabilidade, na verdade, nos proporcionou foi  que descolamos o Dial dos nossos celulares.  

Outra coisa que me ocorre no momento é que, mesmo com essa flexibilidade, não há muito o que fazer. Para onde se vai só se ouve programa ruim. Vou confessar a vocês, estou com medo, medo de mudar de operadora. Vai que aconteça a mesma coisa que esta acontecendo agora: imagina eu no futuro, sentindo saudade da minha antiga operadora novamente?

* Liandro Bulegon é sócio da Aquasoft, parceira Embarcadero no Rio Grande do Sul.