“Muito supérfluo e pouco essencial!” esta frase pipocou em minha cabeça. Não sei se é minha, se li em  algum lugar ou se foi psicoenviada, mas isto não importa. Desde a leitura de Viagem ao Oriente, de Hesse, os autores ficaram bem menos importantes do que as suas obras.

“Muita correria e pouco deslocamento!”– pow! Outra cacetada.

O celular tira fotos, grava filmes, tem joguinhos, talvez até lave roupa, mas não se consegue uma ligação. Os carros fazem mil coisas, mas os freios não funcionam e as rodas, às vezes caem. As roupas são lindas mas desconfortáveis. A pessoa está bronzeada, corpo esculpido, mas  nada saudável.  O controle do DVD tem dezenas de teclas sendo as  4 ou 5 que se usam  90% do tempo tem a mesma forma e cor das demais (chamem Pareto!!). Os políticos ... deixa prá lá..

Nossa vida parece estar repleta disto e isto ocorre  provavelmente  porque não sabemos ou podemos construir o fundamental, aquilo que, no final das contas,  sobraria após um terremoto destruir a própria escala Richter.  Parece mais fácil, visível e produtivo se concentrar nos sintomas do que encarar as causas e os fatos.

Em nossas  tecnologias isto acontece, Os “tecnotrecos” e metodologias se renovam a cada segundo e avançam como um tsunamis de coisas novas. Alguns chamam isto de inovação  - mesmo que não agregue valor a coisa alguma. Muitos se sentem ïdiotas por não conseguir acompanhar o “avanço vertiginoso”, grandes esforços são realizados para não ficar para trás e poucos perguntam:  - pois é, para que?  Aliás, para quem ainda não conhece a música  “Pois é pra que?” de Sidnei Muller, fica a sugestão,

Por interesses diversos somos compelidos a investir e nos preocupar com coisas que talvez simplesmente não precisemos, não queremos mas, por “n” influências, somos impelidos a desejar ou a engolir.

Claro que há inovações de verdade, mas há muita “novidade” sendo confundida com inovação. Certamente precisamos resgatar algumas obviedades. Priorizar o “para que”. Inovar talvez seja fazer aquilo já sabemos o que precisa ser feito. Esquecer o óbvio pode ser trágico e normalmente o é.

Lembrando que genial é simplificar e burrice é complicar, saliente-se que fazer simples é muito difícil.

A razão deste artículo talvez seja o de  provocar uma simples reflexão. Alguns segundos para pensar se não esquecemos algumas coisas óbvias e se não estamos embaralhando a pirâmide de Wolsam (digo Maslow), ou seria um triângulo?

As dificuldades para realmente “fazer acontecer” geram teorias e muitas das ”novidades” que circulam por aí, sejam elas traduzidas por  produtos, serviços, metodologias, religiões etc. Elas proporcionam novos pontos de partida sem que antes se tenha chegado a parte alguma - os eternos recomeços parecem mais atrativos do que construir e concluir alguma coisa. Como alguém já deve ter dito: desistir é mais fácil do que existir.

Certamente é possível determinar e fazer algo que precise ser feito (simples mas difícil). Isto envolve pessoas e aí é a coisa complica exponencialmente pois humanos não são entes binários,objetivos, documentáveis, padronizáveis e as idissioncrasias precisam gerar resultantes e não destroços.

Pessoas  trabalhando em harmonia, em equipe, motivadas e reconhecendo suas individualidades mas,sobretudo, a força do grupo são um fator crítico de sucesso em 99% das estórias com “final feliz”. Isto é óbvio, tão óbvio quanto esquecido.

* Hermes Freitas é diretor de Negócios e de Administração do Grupo Aleste.