O modelo de negócios em software livre, é basicamente a obtenção de receitas através de serviços, sejam estes de que natureza forem. Nada de novo.

Red Hat e Novell obtém receitas da prestação de serviços em uma plataforma comum, neste caso o Linux, no mercado diversas empresas concorrentes tem sua receita em plataformas comuns, como o  GSM com TIM, Vivo, Claro e Oi. Plataforma comum não significa redução de receita, nem redução de concorrência, ao contrário resultaram em maior concorrência e inovação.

 Os dados disponíveis relativos ao ano de 2008 (divulgados em 2009) apontam que no mercado de T.I brasileiro o cenário de receitas com prestação de serviços é quase o dobro que o de venda e/ou licenças de software, venda ou licenças constitui um mercado de 5,07 bi de dólares, já a área de serviços tem um mercado de 9,94 bi de dólares!

O número se repete, para a exportação, relação de 3 para 1 na relação serviço/software. Exporta-se 82 milhões de dólares em 2008 com vendas de software no Brasil e exporta-se 258 milhões de dólares com venda de serviços em software. Dados da ABES - Associação Brasileira das Empresas de Software em pesquisa divulgada em 2009.

A Assespro - Associação das Empresas De Tecnologia Da Informação, Software e Internet, em artigo de autoria do presidente da Assespro-sp e do Vice-Presidente da ASSESPRO Nacional, respectivamente Roberto Carlos Mayer e Luís Mário Luchetta, confirma: 

 “O software representa parcela ínfima (no máximo 6%) do custo de uma solução. Os demais (94%) referem-se à mão-de-obra, know-how, customização, implementação, suporte, equipamentos e toda a infra-estrutura necessária a utilização de determinada solução.”

É impossível gerar renda e desenvolvimento nacional com 6%. Temos um mercado de T.I que movimenta quantias esmagadoras em serviços no Brasil. Quase um terço do mercado total de T.I brasileiro concentra-se nos serviços. O fomento estatal a este mercado de serviços é um caminho claro a seguir.

Prestar serviços em software livre tem um custo de investimento inicial muito mais baixo, pois as ferramentas de desenvolvimento casos são livres também. Isso dá ao país a chance de diminuir o gap de tecnologia muito mais facilmente, pois o acesso a tecnologia já está disponível ao  empreendedor de T.I que desejar usá-las.

Na compra de aviões de guerra onde um país tem que comprar o direito de ter acesso a tecnologia de um pais ou fabricante mais desenvolvido e ai começar seu próprio desenvolvimento local capaz de gerar riqueza, empregos e renda aqui. Situação próxima ocorre com o software proprietário. E não há nada de errado nisso, cada empresa tem liberdade para desenvolver o modelo de negócios que bem entender e que lhe for mais lucrativo. Cabe ao consumidor aceitar ou não, e se não aceitar buscar alternativas.

Com o software livre o direito de ter acesso a tecnologia de ponta já está garantida na licença do software, este acesso facilitado garante ao empreendedor brasileiro maior competitividade no mercado, pois terá de fazer um investimento inicial menor, o que aumenta o RoI, facilita a geração de empregos, de mais tecnologia e a criação de um ciclo virtuoso de empreendedorismo, inovação, exportação, reconhecimento como player de mercado internacional, o que gera mais empregos, mais empreendedorismo, mais inovação, mais exportação... Torna-se mais um  mercados atua para deixarmos de apenas exportar conteiners de soja e banana...

Ações como o portal do software público, não podem ser simplesmente vistas como “concorrência governamental” , “apoio ao software livre” ou “Governo X Microsoft”. Não, não é nada disso apesar da “direita” jurar que é, e a “esquerda” jurar que é também.

São ações de fomento como estas, que incentivam a ousadia, criatividade e inovação do empreendedor nacional que vão trazer ao nosso país a cultura do desenvolvimento de capital intelectual e não somente de exportadores de bananas in natura.

 Por isso quando uma empresa PRIVADA como a DBSeller decide abrir seu código e disponibilizar seu software de forma que até seus próprios concorrentes possam ter receita com ele, isto não pode ser visto como algo “injusto” ou “concorrência desleal” mas sim como uma nova fase do mesmo mercado, onde os players podem se adaptar e a oportunidade está dada a todos de concorrerem com uma plataforma comum, em 2008 até mesmo a Datasul, muito maior e mais poderosa que a DBSeller colocou a abertura de código na imprensa. Outras empresas brasileiras já abriram códigos...

É um modelo de desenvolvimento de pessoas, agregação de valor e de negócios diferente do comum? Claro que é! Mas é exatamente isso que faz com que se abandone a zona de conforto e vá além, enxergando e aproveitando as oportunidades.

* Gustavo Melo é Vice-Presidente - Associação Dos Jovens Empresários de Porto Alegre -  AJEPOA, atuou como gestor comercial em empresas privadas além de Coordenador de Captação de Recursos para FISL - Fórum Internacional Software Livre.