Quase quatro anos atrás, um publicitário me perguntou: afinal, quem ganha dinheiro com a Internet? A resposta que eu dei era comprida e envolvia provedores de acesso, fabricantes de hardware, empresas de telecomunicações e alguma coisinha mais. Se ele estivesse me fazendo a mesma pergunta hoje, a resposta seria muito diferente – e muito mais extensa.
Na verdade, quem faz hoje a pergunta “onde está o dinheiro” é porque ainda não entendeu a Internet. Pensava-se que ela significava os sites, banners, informação paga, provedores de acesso, e que se havia dinheiro ele tinha de sair dali.
Engano. A Internet é uma indústria, a mais nova indústria da comunicação, e ao mesmo tempo é uma mídia. É também uma rede. É um repositório de dados. Fica mais fácil dizer o que ela não é. Por causa dessas características, ela jamais poderia ser explorada como se faz (ou fazia) na mineração de ouro, em que sabe-se exatamente onde está a grande riqueza – basta garimpar e cavar, cavar, cavar.
Na Internet, pode-se dizer que só encontra ouro rápido quem investe pesado em pornografia. O resto é 10% de inspiração e 90% de transpiração, como na maioria dos negócios deste planeta. Portanto, pode-se também dizer em primeiro lugar que o sucesso na Internet não tem forma definida e muito menos lugar certo. E não vem de graça não – custa muito trabalho.
Assim, anos atrás muita gente achava que abrir uma empresa para prover acesso era inaugurar uma mina de ouro. Errado. Mas por que parecia certo? Por que parecia ter forma definida? Provavelmente por causa da avidez de conexão à Internet que pairava sobre a sociedade brasileira. Imaginava-se que os clientes apareceriam aos milhões. Apareceram aos milhares. Muito provedor “quebrou a cara” e perdeu dinheiro, mas muitos ficaram no negócio e não podem se queixar. E é evidente que aí havia dinheiro.
Outra ilusão apareceu entre os profissionais de comunicação: a de que fazer páginas em HTML podia ser um negócio. Não era – primeiro porque o HTML passou a ser um simples “save as” de uma porção de aplicações, e segundo porque a concorrência foi tal que o mercado se superlotou de profissionais especialistas na elaboração de páginas, e portanto o preço das páginas e dos sites em geral baixou. Onde estava o dinheiro? Quem podia ganhar dinheiro nesse metier? Provavelmente apenas os designers, que cuidavam das ilustrações (uma coisa que não pode ser automatizada), e as agências de propaganda, que podem conseguir boa remuneração pelos sites.
Infovias
Mas acho que a melhor analogia que se pode fazer com a Internet é com a rede de estradas de qualquer país. É evidente que a rede de estradas tem um valor, porque é feita de terras, serviços de engenharia e de terraplenagem, asfalto, sinalização. Mas se ninguém passar por ela, que valor tem? A resposta é nenhum. Se, por outro lado, essas estradas ligarem muitas comunidades, o comércio entre elas irá se fortalecer de milhões de maneiras: passará o caminhão do leite, o das verduras, o ônibus intermunicipal; no acostamento serão fincados os postes para levar eletricidade a todas as propriedades na beira da pista e para sustentar cabos telefônicos.
Não é preciso ser muito esperto para perceber quantas empresas se formaram e poderão estar se formando para utilizar a estrada como MEIO de concretizar negócios. Portanto, a fortuna que está na Internet é formada por milhões e milhões de oportunidades de negócios, que vão desde o provimento de acesso e fornecimento de informações até o desenvolvimento de aplicações antes impensáveis, ou cuja utilidade era desprezível.
Numa era em que se fala de globalização em todas as esquinas, a Internet se transformou na estrada que permite a uma loja de Nilópolis vender a um consumidor na Bélgica sem abrir uma filial em Bruxelas. Que finalmente permite ao embaixador brasileiro em Pequim ler notícias do Correio Braziliense ou do Estadão sem esperar pelos vôos que vêm do Brasil com escalas e conexões. Que faz uma carta ir de São Paulo a Chicago em quatro segundos e não em dez dias.
Esses três exemplos de utilidade da Web estão fazendo fortunas.
Então, por mais que eu pareça redundante, vale a pena repetir que não se está ganhando dinheiro exatamente COM a Internet ou NA Internet, mas principalmente PELA Internet. E para chegar a ele muitas vezes só é preciso investir inteligência e muito trabalho.
* Aleksandar Mandic foi o criador, em 1990, do Mandic BBS e um dos pioneiros do mundo online brasileiro. Foi sócio-fundador do iG, criador do mandic:mail e hoje é candidato a deputado federal pelo estado de São Paulo. Promete uma campanha 100% digital: http://mandic.blog.br
Onde está o dinheiro na Internet?
Aleksandar Mandic // 13/09/2010 14:19
Quase quatro anos atrás, um publicitário me perguntou: afinal, quem ganha dinheiro com a Internet? A resposta que eu dei era comprida e envolvia provedores de acesso, fabricantes de hardware, empresas de telecomunicações e alguma coisinha mais. Se ele estivesse me fazendo a mesma pergunta hoje, a resposta seria muito diferente – e muito mais extensa.