Elas têm 40 anos, mas estão aposentadas há quase 20. Culpa do seu criador, que dizia não ficar bem um sexagenário desenhando cobrinhas. Estou falando de Luis Fernando Veríssimo e de suas As Cobras, as tiras que completam quatro décadas de existência em 2015.
O autor gaúcho conta que a ideia só tinha um problema: ele não sabia desenhar. A opção por cobras deve-se justamente a essa limitação. “É fácil fazer Cobras. Elas só tem pescoço.”
Fácil de desenhar, sim, mas só um humor afiado como o dele para transformar duas cobrinhas em uma forma inteligente e bem humorada de realizar críticas a um regime de ditadura, que o país vivia naquela época, através de personagens como Corrupião, Queromeu, entre outros.
Infelizmente, muita coisa continua igual, passado esse tempo todo. Igual, não. Pior. Mas isso é conversa para outra hora e lugar.
As tiras filosóficas são as minhas prediletas. Lembro de uma lida há muito, muito tempo, quando eu havia ingressado na faculdade. Uma cobra pergunta para a outra.
- O que você acha da questão da finitude humana em relação ao Cosmos?
- Isso passa.
E passou. De certa forma, o humor leve daquelas tiras ajudou o então estudante de jornalismo a relaxar diante de questões sem resposta. Se a vida tem sentido ou não, se somos insignificantes em relação ao Universo, a inexorável passagem do tempo, entre outras perguntas “cabeludas” talvez só encontrem descanso mesmo quando tratadas de forma bem humorada e irônica.
Este colunista, tanto tempo depois, também decidiu entrar na vibe de Luis Fernando Veríssimo, e nesta quinta, ao lado de uma turma de cronistas gaúchos, está lançando "Cobras na Cabeça - crônicas (ir)reverentes", na quinta-feira, às 20h, ali no Memorial do Rio Grande do Sul, livro-tributo ao aniversário desta obra nada insignificante, bem pelo contrário...