Morte as divisórias, baias e gaveteiros, feudos onde senhores se impõem, trincheiras onde a galera se protege. É o fim da falsa sensação de segurança atrás de painéis estofados de cor bege, mesas oblíquas, cheias de regulagens e configurações personalizadas. Símbolos disfuncionais de status, mas acima de tudo uma garantia de isolamento, cada profissional dono de seu cantinho para não perder o foco das suas tarefas.

Baias e divisórias, cada profissional distante alguns metros uns dos outros, para que pudessem trabalhar em silêncio, símbolos de quando conversar no trabalho era sinônimo de improdutividade. Agrupamentos eram por função, analistas, testadores, desenvolvedores, designers, cada grupo trabalhando na sua parte do projeto, ambiente pródigo para documentação extensa, emails e telefonemas a colegas que estão no mesmo andar.

Muitos se agarram a mesas individuais grandes e gaveteiros, a uma distância segura das mesas mais próximas, sonhando em um dia ter uma sala individual e envidraçada. Os tempos mudaram, aos poucos cada vez mais empresas abandonam tudo isso e investem em ambientes abertos, bancadas enormes completamente livres, onde gestores e equipes sentam-se juntos, lado-a-lado, privilegiando a comunicação.

Ambientes abertos e multidisciplinares

A cada ano se consolidam ambientes mais amplos, abertos, pouco espaço pessoal e muito espaço comum, bancadas coletivas, sem gaveteiros, sem divisórias, cada vez mais laptops ao invés de desktops, ambientes mais descontraídos e inspiradores, com áreas de descompressão, convívio e lazer. Espaços onde os times exercitam acordos de boa convivência e alta produtividade, onde a solução é aproximar e não afastar.

Cada profissional com um locker para coisas pessoais protegidas, o restante é de alçada dos times e cabe a eles definir as regras necessárias de convívio, no desafio coletivo pelo bom senso, liberdade com responsabilidade no uso de espaços comuns, desde a cozinha às mesas de jogos, exigindo um treino cotidiano de autodeterminação, com mais disciplina individual e coletiva.

A interação humana é um grande desafio para aqueles que no século XX acreditaram que a melhor solução para organizar pessoas é dividi-las e decidir por elas todas as regras para que não hajam conflitos, entretanto é dos pequenos conflitos e diferenças é que estabelece-se a auto-organização. Agrupar equipes multi-disciplinares por projeto e dar-lhes autonomia para trabalharem o melhor possível é um desafio, mas é parte da solução.

Ícones internacionais e nacionais

Empresas que são os ícones deste novo modelo mental, como Google, Facebook, Yahoo, Pixar, Thoughtworks, elas tem muito mais que isso em todos os aspectos, elas vão além, mas possuem outra trajetória, começaram a praticar novas formas de trabalho em equipes há bastante tempo. Um traço que se destaca em seus profissionais é a independência e engajamento, em uma espiral colaborativa de auto-gestão do conhecimento.

Para quem ainda tem espaços, lideranças e processos muito próximos dos praticados no início do século XX, o melhor é repensar seus valores e buscar entender como o mercado está atraindo e retendo talentos. Mas cuidado, o segredo não está só nos móveis, utensílios, iluminação e espaços, também não está no xBox da sala de descompressão colorida, o segredo está em uma mudança cultural, gradual e sustentável.

Na dúvida, visite um parque tecnológico, espaços com muitas empresas fora da curva, regionais, nacionais e internacionais. Use seu networking, visite algumas delas, perceba a energia dos espaços e das pessoas. Confira como trabalham e como se sentem, imersos em uma cultura que privilegia a inovação, com espaços amplos e descontraídos, mas olhe com isenção, pode parecer um tanto caótico para olhos desacostumados.

Irreversível

É previsível que muitas pessoas frente a mudança, se incomodem e tratem de negar, transferir, racionalizar ou usar de outras defesas psíquicas, mas isso é nosso inconsciente gerando barreiras e restrições ao esforço e risco em fazer diferente. Sair da zona de conforto sempre envolve angústias, pois exige adaptação, para aprender algo novo é preciso desapegar do velho.

O importante é que esse caminho não tem volta, permitir que as pessoas sintam-se melhor e mais a vontade, em um ambiente no qual terão mais responsabilidades e liberdades, em um método de trabalho que envolve mais engajamento e pró-atividade. Em suma, estamos deixando de ser operários para finalmente sermos de fato profissionais do conhecimento.