Uma pesquisa realizada em 1908 pelos psicólogos Robert Mearnes Yerkes e John Dodson Dillingham acabou tornando-se conhecida pela alcunha de “Lei de Yerkes-Dodson”. Demonstra que nossa performance é afetada positivamente pelo estado de estímulos ambientais, mas isso tem um teto.

Esta respeitada e influente pesquisa já foi utilizada e validada em diferentes contextos, desde chão de fábrica ao dia-a-dia de executivos. Creio que é fácil para qualquer um imaginar uma equipes de desenvolvimento de Software, onde muita pressão gera muita dívida técnica e erros.

Yerkes e Dodson apresentaram um modelo sobre a influência positiva causada por níveis de pressão (estímulos), até um limite que varia de acordo com o tipo de tarefa, desde as mais simples até as que exigem assimilação, entendimento, montagem de cenários e tomada de decisão.

A pesquisa registrou uma diferença nesta curva quando o desempenho medido diz respeito a tarefas mais ou menos complexas. As tarefas menos complexas exigem e suportam mais pressão, as tarefas mais complexas comprometem-se cedo quando há sobre o executor muita pressão.

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Até certo ponto, melhoramos nossa performance enquanto sobem os níveis de estímulos mentais, com metas, desafios, pressão, mas se estressar demais ou por muito tempo, esta curva passa a cair. A lógica é conhecida, pois os erros e falta de planejamento tornam-se uma bola de neve.

Em tarefas simples é possível estressar mais (lembrando o filme o chefe e a esteira em que Chaplin tem que apertar parafusos no filme Tempos Modernos). Quanto mais simples a tarefa, mais eu converto a pressão em resultado até o teto, isso acontece em menor escala nas complexas. 

Yerkes-Dodson para TI

Em TI, onde lemos “excitação” devemos interpretar como pressão por prazos, orçamento apertados, desafios, inovação, problemas, etc. Aqui chega o ponto onde sou obrigado a perguntar: Em qual das curvas será que boa parte das tarefas de desenvolvimento de software se enquadram?

  • Tarefas Simples – exige atenção, acesso a memória rápida, aplicação de boas práticas,  um mínimo de previsibilidade e risco moderado.
  • Tarefas Complexas – exige atenção dividida, memória de trabalho, encadeamento de tomadas de decisão, multitarefa e adaptabilidade.

Mais uma teoria da psicologia que após um século de estudos empíricos ajuda a explicar o porque dos excesso de bugs, dívida técnica crescente, falta de qualidade, sistemas que passam a ser encarados como legados minutos após serem entregues dada a falta de qualidade de código.

Uma situação retratada sob diferentes abordagens no modelo “Cynefin” e no “Job Strain Model” de Karasek, teorias que contribuem para nosso entendimento e argumentação sobre a qualidade e o passivo que geramos, que na correria as empresas insistem em taxar como inevitáveis.

Um estudo recente (2009) na Universidade de Oklahoma, fundamentado na “Lei de Yerkes-Dodson”, foi desenvolvido com o título de “Impact of Budget and Schedule Pressure on Software Development Cycle Time and Effort”. Ele concluiu que para manter um nível benéfico de "excitação" em projetos de SW requer a cooperação entre clientes e equipes de desenvolvimento para focarem na melhor forma de potencializar o trabalho e os resultados de forma sustentável. Também concluiram que o orçamento é mais crítico que o tempo para a maioria dos projetos de software.

Mas de nada adianta pesquisar, teorizar, comprovar, saber e continuar fazendo mais do mesmo. É como um chefe que pergunta quanto tempo para fazer um software e os desenvolvedores afirmam 4 meses, o chefe responde dizendo que eles só tem 2 meses e os desenvolvedores respondem dizendo que nem começaram e o projeto já não deu certo, pois está atrasado 2 meses. A solução para este paradoxo é entregar qualquer coisa e enquanto se discute o que houve e porque não deu certo (?), vai-se "arrumando" por mais 2 meses até ficar pronto.

Diferencial competitivo em produtos digitais tem a ver com qualidade, com o nível de acoplamento às necessidades do cliente e usuário, o uso de boas práticas de desenvolvimento em um processo desenhado a partir de métodos ou modelos racionais de execução com foco em eliminação de desperdícios e otimização de valor.

Remar contra esta maré é no mínimo arriscado!

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