Sede da HT Micron em São Leopoldo.
A Teikon, fornecedora de insumos para a indústria de PCs gaúcha, está de saída da fábrica da HT Micron, fábrica de memórias instalada na Unisinos, em São Leopoldo, na região metropolitana de Porto Alegre.
A saída da Teikon é mais um passo em uma série de divergências entre o lado brasileiro e o lado coreano da joint venture, nascida em 2009 como um dos resultados mais chamativos da política de fomento a indústria de semicondutores dos governos petistas.
A movimentação foi revelada por pelo presidente da Teikon, Ricardo Felizzola, em uma entrevista bastante franca para a jornalista Giane Guerra na Rádio Gaúcha.
De acordo com Felizzola, a Teikon foi “convidada a se retirar da fábrica pela HT”.
As duas empresas dividiam espaço, com a HT sendo uma das principais fornecedores de memórias para a Teikon. Mudanças recentes na Lei de Informática abalaram a relação e resultaram também em um corte de pessoal na Teikon.
A HT Micron está sob controle coreano desde 2017, depois de comprar o controle do Grupo Parit, que reúne a Teikon e a Altus, uma companhia de automação industrial sediada no parque tecnológico da Unisinos.
Com o negócio, os brasileiros se tornaram minoritários e Felizzola saiu do cargo de CEO, que havia exercido desde a fundação, em dois termos de três anos. Assumiu o coreano Chris Ryu, um executivo experiente na indústria de chips sul coreana.
Apesar de apostar na continuidade da HT Micron, Felizzola foi crítico ao estilo de gestão dos coreanos, agora no comando.
“É muito difícil, como qualquer projeto que traga executivos do exterior para conduzir os negócios. Os coreanos tendem a querer fazer as coisas como na Coréia, o que não reconhece o dinamismo do mercado brasileiro”, disse Felizzola.
O empresário também admitiu que a HT Micron não correspondeu às grandes expectativas em torno do empreendimento, cuja fábrica foi inaugurada em 2014 com direito a presença da então presidente, Dilma Rousseff.
Na época, se falava em atingir uma capacidade 360 milhões de chips por ano no auge da produção, gerando cerca de 800 empregos diretos em até quatro anos. Até então, tinham sido investidos R$ 110 milhões, com a promessa de um aporte de mais R$ 260 milhões nos anos seguintes.
A produção equivaleria a cerca de 25% da demanda nacional por estes produtos na época, um mercado que movimentava cerca de US$ 25 bilhões no país.
Com isso, a HT se tornaria um case de sucesso da política industrial dos governos petistas, que tinha no fomento do setor de semicondutores no país um dos seus pontos chave.
Outras iniciativas, como o Ceitec, também focada em chips, também datam dessa época, assim como discussões de investimentos bilionários da Foxxconn no país ou uma possível empreitada de Eike Batista no setor.
“Quando a gente preparou o avião, na hora de decolar, faltou ar e sustentação. Tinha muito vento”, disse Felizzola, fazendo uma alusão a crise econômica experimentada a partir de 2015.