Fernando Arbache. Foto: Divulgação
É comum que o erro no ambiente profissional venha acompanhado de julgamentos. Mas será que essa prática é eficaz?
Quando um departamento ou um profissional erra, geralmente ocorre um questionamento, que, muitas vezes, tem como consequência a punição. No entanto, esta é uma ação equivocada, uma vez que empresas cada vez mais levantam a bandeira de um ambiente aberto de trabalho, no qual os colaboradores possam ter liberdade de expressão e de inovação.
A aversão ao risco pode ser uma barreira de criação e de desenvolvimento. Mas é algo que sempre existiu nas empresas, sendo menor naquelas mais inovadoras. No entanto, as startups, que supostamente são empresas mais arrojadas, quando investidas por um fundo de capital, todo o seu entusiasmo para testar novas ideias passa a ser contido, pois alcançar altas margens e resultados se torna o principal direcionamento dos investidores. Algo a se pensar...
Também é possível perceber que a aversão ao risco tende a aumentar quando o mercado passa por um período de turbulência, fazendo com que o controle cresça e o budget para inovação diminua. Nesse momento, a reinvenção, muitas vezes essencial para sobrevivência dos negócios, é deixada em um segundo plano.
Erros e acertos
Temos visto uma busca constante por grandes mentes. Grandes ‘sacadas’. A criatividade é uma das competências mais desejadas pelas empresas na procura por talentos.
Acredita-se que as pessoas genuinamente criativas possuem o momento ‘eureca’. Seriam mentes geniais com momentos de epifanias. Eureca! E de repente cria-se algo genial e a empresa muda o mundo. Uma visão talvez um tanto fantasiosa, que exclui fatores importantes do processo criativo: arriscar e erra, para inovar.
Toma-se como exemplo Amadeus Mozart, considerado um dos gênios criativos que compôs sinfonias, concertante, operística, coral, pianística e camerística. Ele mostrou uma habilidade musical prodigiosa desde sua infância. Atribui-se a ele a seguinte frase:
“Quando sou completamente eu mesmo, quando me encontro sozinho e de bom humor – por exemplo, se estou viajando de carruagem, caminhando depois de uma boa refeição ou sem sono à noite, minhas ideias fluem melhor e com mais abundância” – segundo o professor Kevin Ashton, pesquisador do Massachusetts Institute of Technology (MIT).
Considerando esta frase como sendo, de fato, de Amadeus Mozart, pode-se concluir que os gênios criativos desenvolvem, de forma súbita, suas criações. Porém, o que muitos não sabem é que esta frase, apesar de atribuída a ele, foi inventada. Nunca Mozart disse isto!
Em suas verdadeiras cartas, Mozart revelou que o seu processo criativo era duro e exaustivo. Ele era excepcionalmente talentoso, mas não mágico. Ele se irritava, desistia momentaneamente e mais tarde voltava para tentar novamente. Portanto, ele errava, mas não desistia. Tinha dificuldades de compor sem um cravo ou um piano.
Isso reforça a ideia de que o processo criativo, diferente do que muitos imaginam, depende de trabalho. E por mais decepcionante que seja, também dependa da evolução dos erros.
Ao errar, testa-se uma premissa e avalia se ela está correta ou não, nos dando um direcionamento para qual caminho seguir. Certamente uma de suas sinfonias mais famosas, a nº 40 em Sol Menor, foi concebida de muitas tentativas e erros.
Um outro exemplo de que a criatividade não é mágica e está associada aos erros, é do criador do hoje conhecido como IoT (Internet of Things, ou Internet das Coisas em português), Kevin Ashton, relatado em seu livro.
Segundo Kevin, ao longo de sua carreira, ele não se considerava bom em criar algo. Lia diversos livros de criatividade, porém fracassava continuamente e, quando mostrava as suas invenções, as pessoas se irritavam. Quando tinha algum sucesso, elas se esqueciam de que a ideia era dele.
As ideias de Kevin vinham de forma gradativa e as pessoas as recebiam sem animação, fazendo com que ele se sentisse um fracassado. Porém, quando se deparou com um problema de falta de batom nas lojas, teve a ideia de colocar um chip em cada produto, que mostrava quando um determinado batom estava acabando, acelerando a reposição e evitando a falta do produto e, consequentemente, a perda de clientes.