Funcionários da Tesla: futuro ou hype?
Em 2008 a Tesla participou da feira de Menlo Park, na Califórnia. Sua produção era de apenas 16 carros por mês. A fila de espera, contudo, já ultrapassava a marca de mil compradores. Todos pagavam um sinal de cinco mil dólares pela reserva.
Na época, a Tesla era mais conhecida como a startup de carros elétricos do Sergey Brin e do Larry Page. A dupla de criadores da Google havia recém investido na empresa. Elon Musk, que já estava lá desde muito antes, nem foi citado pela imprensa local.
Dez anos depois, sua produção mensal é de aproximadamente 25 mil carros por mês. Ainda assim, a lista de espera continua grande e praticamente não existe pronta-entrega. Para dar conta do recado, a firma tomou o caminho do Oriente. No momento em que escrevo, uma fábrica está sendo construída na China.
A tecnologia dos carros elétricos da marca está cinco anos à frente do concorrente mais próximo, no mínimo. Os alemães, seguidos pelos chineses, são os que mais se aproximam nesta corrida.
A Tesla correspondeu às expectativas e se tornou em menos de uma década uma grife e um símbolo de sofisticação que não era visto desde a introdução do iPhone da Apple.
Mas então, por que ainda há tantos rumores negativos sobre sustentabilidade financeira da montadora?
Em primeiro lugar, é preciso reconhecer que ao longo de sua curta história, a Tesla realmente enfrentou graves crises. Orçamento de P&D estourados, custo de fabricação acima do preço de venda e atrasos frequentes constituíram a reputação da montadora nos primeiros anos de vida.
A personalidade do CEO Elon Musk muitas vezes foi responsável por tudo isso. Ele interferiu diretamente no design dos produtos e fez exigências mal compreendidas até pela equipe de engenheiros.
Some-se a isso um idealismo irresoluto: acabar com o vício do homem por combustíveis fósseis e transformar Marte em um planeta habitável. Estas são suas modestas ambições. Quando entrou na Tesla como investidor-anjo, ele já trabalhava há alguns anos com a SpaceX.
Em segundo lugar, tanto a Tesla como a SpaceX se meteram em mercados dominados por cachorros grandes.
A startup mais recente da indústria automobilística americana havia sido a Chrysler, fundada em 1925. De lá para cá, o mercado se consolidou. Barreiras de entrada instransponíveis foram erguidas, principalmente no Ocidente.
Já a SpaceX comprou briga com poucos e bons. Ela reduziu os custos de fabricação de foguetes a uma fração do custo de suas concorrentes. As americanas Boeing e a Lockheed Martin, além da francesa Arianespace, eram soberanas há mais de três décadas no mercado de lançamento de satélites.
A entrada da SpaceX no jogo forçou as duas primeiras a criarem uma joint-venture para unir esforços e reduzir custos, enquanto a Arianespace voltou à prancheta para recomeçar quase tudo do zero.
Para completar, não é preciso muito esforço para concluir que carros elétricos são inimigos naturais dos petroleiros.
Se invasões de territórios e guerras reais foram travadas pelo domínio desse recurso natural estratégico, o mesmo não poderia ser feito com uma startup da Califórnia. Não pegaria bem lançar uma ofensiva militar em pleno Vale do Silício. E a lista de inimigos só aumenta.
Os ataques a Tesla utilizam dois flancos principais: relações públicas e mercado financeiro. De um lado, lobistas profissionais (nos Estados Unidos o lobby é uma atividade legalizada, não custa lembrar) dão entrevistas às redes de televisão, escrevem artigos e tuitam comentários negativos a respeito da empresa, muitas vezes, com argumentos duvidosos e pouco científicos.
Parece mentira, mas de fato existe um lobby trabalhando para aumentar as emissões de carbono. Uma reportagem do New York Times registrou bem esse movimento.
De outro lado, formou-se um grupo de investidores “short sellers” que apostam contra as ações da montadora. Ou seja, são especuladores que utilizam mecanismos do mercado de derivativos para lucrar quando o preço da ação cai.
Os “shorts” também são ruidosos na imprensa e nas redes sociais. Não podemos afirmar categoricamente que o primeiro grupo tem ligação com o segundo, mas sem dúvida eles têm um alvo comum.
Essa nuvem de fumaça produziu efeitos no senso comum. Você provavelmente já deve ter ouvido falar que carros elétricos poluem mais que carros movidos a diesel, certo? Pois então, a fonte da informação certamente bebeu da água de um destes grupos.
Fato é que, hoje, todas as montadoras têm projetos de eletrificação em série. A Tesla foi apenas a pioneira, e vem colhendo os frutos disso. Ela tem o melhor produto sob quase todos os ângulos: melhor bateria, motor mais eficiente, melhor sistema de piloto autônomo e os carros mais seguros da atualidade.