Homem contempla destruição em Kiev, capital da Ucrânia. Foto: Oleksandr Ratushnyak / UNDP Ukraine.
A Ucrânia está fazendo uma campanha aberta para que a SAP deixe de dar suporte para seus clientes russos, criando um transtorno para a multinacional, que atende alguma das maiores empresas da Rússia, hoje rumo a ser um pária internacional.
Como outras grandes empresas de tecnologia, a SAP anunciou que estava encerrando seus negócios na Rússia, que se tornou alvo de um grande embargo econômico liderado pelos Estados Unidos e a Europa depois de invadir a Ucrânia.
Não está muito claro o que isso significa na prática. A SAP fala em “não trabalhar mais” com companhias alvo de sanções na Rússia, mas não revela se esses clientes podem seguir usando seu softwares ou se têm acesso a suporte técnico.
Parece mais provável que a SAP esteja abdicando de fazer novas vendas (que, tendo em conta a situação econômica da Rússia, provavelmente não aconteceriam no curto prazo) enquanto segue sustentando as aplicações e fazendo updates.
A Oracle, que concorre com a SAP no mercado de software de gestão empresarial, disse que não faria novas vendas e também cortou suporte e updates.
Nos últimos dias, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e o ministro de Transformação Digital ucraniano, Mykhailo Fedorov, fizeram postagens no Twitter pressionando diretamente a SAP.
O post mais duro foi o de Fedorov, um jovem de 31 anos que até pouco tempo atrás tinha uma agência de marketing digital em Kiev, é a cara da Ucrânia no lobby junto ao mundo da tecnologia.
"Você apoia isso, @SAP e @ChrstnKlein? Ou você pode parar o seu apoio? Após 21 dias de uma guerra sangrenta, a empresa alemã SAP continua apoiando seus clientes russos - Gazprom, Sberbank, Rosatom, e outros. Esse dinheiro assassina crianças ucranianas! É uma vergonha inacreditável!”, tweetou Fedorov nesta quinta-feira, 17.
A campanha de boicote liderada por Federov tem sido bem sucedida. Nas últimas semanas, os anúncios de saída da Rússia vêm se sucedendo, incluindo nomes como Apple, Google e Microsoft, além de grandes marcas como Coca Cola, McDonald's, Starbucks, Visa e Mastercard.
Uma das jogadas mais chamativas de Federov foi se dirigir diretamente ao bilionário Elon Musk, pedindo ajuda na cobertura de Internet com satélites da Startlink, um pedido prontamente atendido por Musk, que desde então vem se envolvendo diretamente na disputa, ao seu modo peculiar.
A situação da SAP é particularmente espinhosa. Outras empresas podem decidir abdicar por um tempo dos seus negócios na Rússia, que no final das contas tem uma economia menor que a do Brasil e uma população total de 145 milhões.
Uma decisão que custa dinheiro, mas que ainda assim pode compensar no clima de conflagração atual.
Em 2018, uma matéria da Reuters apontou que a SAP atendia 53 entre as 100 maiores empresas da Rússia em termos de faturamento.
Segundo uma pesquisa da Forbes, os clientes incluem companhias estatais do setor de energia como Gazprom e Rosneft, além de grandes bancos como Sberbank e Rosselkhozbank.
As exportações de energia são a maior fonte de divisas da Rússia, respondendo por boa parte do orçamento do governo, e, por consequência, da capacidade do país de manter uma operação militar de grande porte.
Ao decidir negar suporte para esses clientes, a SAP não estaria gerando mudanças significativas no curso do conflito, mas provavelmente perderia suas grandes contas na Rússia no longo prazo, além de transmitir um sinal cujas consequências podem ser muito mais amplas.