GOVERNO

Serpro tem novo presidente

Alexandre Gonçalves de Amorim é uma escolha surpreendente para a estatal.

27 de fevereiro de 2023 - 16:00
Alexandre Gonçalves de Amorim. Foto: Divulgação

Alexandre Gonçalves de Amorim. Foto: Divulgação

Alexandre Gonçalves de Amorim, diretor-presidente do Instituto das Cidades Inteligentes (ICI), organização responsável pela tecnologia do município de Curitiba, acaba de assumir como presidente do Serpro, a maior estatal de tecnologia do país.

Amorim é, sob alguns aspectos, uma nomeação bastante chamativa para uma empresa que, pelo porte e alcance, ajuda a determinar na prática qual é a política pública para a área de tecnologia no Brasil.

O interessante sobre Amorim é que ele não é exatamente um quadro técnico puro-sangue do PT e acumula algumas experiências que indicam uma abertura maior para trabalhar com a iniciativa privada.

A mais chamativa delas é a presidência do ICI, na qual Amorim estava desde outubro de 2021.

O ICI é o equivalente a uma estatal municipal de tecnologia, como a Procempa em Porto Alegre, por exemplo.

A diferença é que ele é administrado como uma empresa privada e gerida por um conselho de administração no qual têm assento entidades empresariais como Assespro-PR, da área acadêmica; e do maior cliente, a prefeitura de Curitiba.

A experiência do ICI é apontada com frequência como um caminho por defensores de uma maior abertura do governo para fornecedores privados de tecnologia, no lugar do desenvolvimento interno, que costumava ser o paradigma petista de tecnologia no governo.

Antes de assumir o ICI, Amorim foi diretor-presidente da Empresa de Tecnologia da Prefeitura de São Paulo (Prodam), a maior estatal de tecnologia do país no nível estadual, e isso durante o governo de João Dória (PSDB).

Amorim tem também experiências trabalhando sob governos de esquerda. 

Em São José dos Campos, ele foi diretor do Instituto de Pesquisa, Administração e Planejamento, de 2013 a 2015, e secretário de administração, em 2015, sempre durante administrações petistas. 

No período de 2006 a 2012, trabalhou em projetos de planejamento estratégico, implantação e desenvolvimento de polos tecnológicos e de reestruturação administrativa no Uruguai, sob os governos da Frente Amplia. 

A expectativa agora é ver como o background de Amorim vai se refletir na atuação do Serpro, que nos últimos anos tem sido marcada por um posicionamento mais agressivo como fornecedor do governo federal em diferentes níveis, e não mais apenas da Receita Federal, seu cliente mais tradicional.

Um dos movimentos mais chamativos neste sentido é o posicionamento como intermediário na contratação de nuvem de grandes multinacionais, o que se conhece como "broker".

O Serpro vem fechando acordos com todos os grandes players de nuvem desde 2019.

A AWS foi a primeira a entrar, com um contrato de R$ 71,2 milhões ainda em 2019. Depois vieram Huawei (R$ 23 milhões), Microsoft (R$ 22,6 milhões), Oracle (R$ 41,5 milhões) e IBM (R$ 40,3 milhões).

As condições são sempre as mesmas: contratos de cinco anos, nos quais os valores fechados são apenas uma base, cuja concretização vai depender de quanto o Serpro vai efetivamente vender no final.

Todos os acordos são diretos, sem licitação, com base em uma dispensa prevista na Lei de Estatais.

Até agora, a nova gestão petista vinha dando sinais de que poderia haver uma mudança de rumos.

No final de novembro de 2022, César Alvarez, um dos integrantes da transição do governo Lula, disse que a adoção de nuvem no governo da maneira atual era uma “irresponsabilidade”, a ser corrigida com um movimento de “voltar para uma política de data centers”.

Para as nomeações em estatais, o novo governo vinha apostando em nomes mais alinhados com as posições clássicas do petismo na área de tecnologia. Na Dataprev, o nome escolhido foi Rodrigo Assumpção, que já havia presidido a estatal de tecnologia da Previdência entre 2009 e 2017.

Agora, a nomeação de Amorim sinaliza que nem todas as ideias do novo governo em relação à sua política de tecnologia vem de olhar o retrovisor.