
A consultoria Enerbio, com sede em Porto Alegre, lançou na semana passada a aplicação Webcarbon, voltada para o gerenciamento das emissões de gases do efeito estufa.
Segundo Eduardo Baltar, um dos sócios da empresa, o programa – que opera online ou como aplicação instalada no desktop – é o primeiro passo para a entrada de qualquer empresa no mercado de carbono.
“Ninguém consegue chegar lá sem saber quanto emite. Nós oferecemos isso”, diz Baltar.
Sob o mote da sustentabilidade e prevendo uma pressão maior sobre as emissões de carbono já no segundo semestre, a empresa espera chegar ao final desse ano com seis clientes na carteira do lançamento.
Primeiros passos
Vendido sob licença, o Webcarbon pode ser operado de duas formas: ou um funcionário da empresa insere os dados no sistema, ou os dados são capturados num programa já existente na empresa, como softwares de gestão.
Baltar explica que, geralmente, centros de controles de custo têm informações sobre os gastos com fontes de gases, como combustível, o que falta, às vezes, é o número sobre o consumo real.
Se essa informação estiver lá, basta redirecioná-la para o Webcarbon que o programa automaticamente a captura quando for alterada ou atualizada.
Caso não, a própria Enerbio pode ajudar os clientes a buscarem os dados.
“O ideal é que as empresas mantenham o controle por filiais, assim é possível gerar relatórios individuais e também comparar as práticas de gestão de cada uma, a fim de ajustar as emissões”, sugere o executivo.
Quem está por trás do projeto
Baltar tem passagens pelo Unibanco, onde trabalhou com projetos de crédito de carbono entre 2005 e 2006, e pela Cia. Energética Rio das Antas S.A (Ceran), onde também atuou com sustentabilidade.
Para desenvolver o software se fez parceria com a Caju Agência Digital (Recife-PE).
Na opinião do consultor, o ideal é ter a meta de reduzir, no mínimo, 10 mil toneladas de carbono.
CO2 lucrativo
Uma redução assim garantiria 10 créditos de carbono, cotados, na semana passada, em pouco mais de € 10 – o que renderia cerca de R$ 22.
Um estudo do Grupo Odebrecht, por exemplo, mostra que numa de suas obras poderiam ser economizados 1,7 milhão de toneladas em sete anos, o que resultaria em R$ 37,4 milhões em créditos de carbono, caso a empresa negociasse em uma das bolsas.
O valor representa 2,49% do lucro total do grupo no ano passado, em apenas um projeto da unidade dedicada à área de energia.
“Sem falar na economia com combustível”, acrescenta Baltar.
Mercado esfriando
Entre ganhar dinheiro e poupar nos gastos, no entanto, a segunda opção parece a mais promissora.
Mercado que atingiu o auge em 2007 – quando movimentou US$ 7,4 bilhões –, o crédito de carbono vem perdendo fôlego. Dados do Banco Mundial divulgados em junho apontam que a venda desses créditos gerou US$ 1,5 bilhão 2010.
De acordo com a revista Exame, isso representou 1% do total de US$ 142 bilhões do mercado global de carbono em 2010, que abrange outros tipos de negociação.
Entre 2005 e 2007, essa fatia chegou a ser de quase 20%.
O principal responsável pela perda de fôlego, segundo a revista, foi a crise, que levou a indústria europeia produzir menos – dispensando em parte a ajuda para cumprir metas de emissões.
Os europeus eram os “clientes” mais fortes do mercado de carbono nos países em desenvolvimento.
Futuro otimista
Ainda assim, a expectativa de Baltar é de que pelo menos a oferta de CO2 economizado aumente, com a pressão por metas ambientais, inclusive no Brasil, ajudando no crescimento da empresa, que no ano passado cresceu acima de 100%, e deve manter o índice em 2011.
Em junho, um projeto criando um mercado de carbono interno foi aprovado na Câmara Federal do Brasil.
Com a medida, se pode gerar créditos para a obtenção de financiamentos, ou gerar certificados para serem usados na compensação de emissões de gases de efeito estufa no território nacional ou em outros países.
Hoje, a Enerbio tem 28 projetos de crédito de carbono nos três estados do Sul, além de empresas em São Paulo, Rio de Janeiro, Ceraá, Bahia, Piauí e na Paraíba.
Os clientes incluem ThyssenKrupp Elevadores, Odebrecht, Ipiranga, Ceran, Certel, Baesa e outros, que renderam à empresa uma carteira de R$ 250 milhões em créditos de carbono.