TI sem dor

Um novo alerta da medicina volta a chamar a atenção para os malefícios do excesso de horas dedicadas ao uso do computador. Nesta semana a entidade britânica Lifeblood divulgou que, além de dores articulares, artroses, inflamações diversas, cefaléias e problemas visuais, entre outros males, a overdose de PC pode causar também a e-Trombose, ou Trombose Eletrônica.

Um dos primeiros casos da doença detectados no mundo foi o do programador inglês Chris Simmons. Em setembro de 2004 ele começou a sentir fortes dores nas costas, chegando a desmaiar após permanecer horas em frente à máquina.

11 de maio de 2006 - 16:54
TI sem dor
Um novo alerta da medicina volta a chamar a atenção para os malefícios do excesso de horas dedicadas ao uso do computador. Nesta semana a entidade britânica Lifeblood divulgou que, além de dores articulares, artroses, inflamações diversas, cefaléias e problemas visuais, entre outros males, a overdose de PC pode causar também a e-Trombose, ou Trombose Eletrônica.

Um dos primeiros casos da doença detectados no mundo foi o do programador inglês Chris Simmons. Em setembro de 2004 ele começou a sentir fortes dores nas costas, chegando a desmaiar após permanecer horas em frente à máquina. Passados alguns dias, o caso se agravou: o profissional começou a cuspir sangue. Aos 42 anos, Simmons recebeu o diagnóstico de Trombose e a explicação de que adquirira o problema devido ao hábito de ficar por pelo menos 12 horas diárias trabalhando no micro.

“A imobilidade é um fator determinante de causa para a Trombose", destaca a diretora da Lifeblood, Beverley Hunt. Segundo ela, o programador sofreu a doença porque as muitas horas que passava na mesma posição, sem se levantar, acarretaram um coágulo em uma de suas pernas, que evoluiu e se alastrou para os pulmões, causando uma embolia (obstrução de artéria ou de um de seus ramos). O mesmo ocorreu com um homem de 32 anos da Nova Zelândia, que, conforme Beverley, também gastava metade do dia à frente do PC, sem se movimentar.

O sedentarismo é condenado também pela fisioterapeuta-ergonomista e professora da Feevale Jacinta S. Renner. “O incremento da tecnologia aumenta a tendência ao comportamento sedentário. Hoje, muitos profissionais passam a maior parte do dia atrelados ao computador e isso cria uma ligação tão forte que os momentos de diversão também acabam sendo passados assim”, conta. De acordo com a especialista, esta é uma situação tão comum que chega a causar males inusitados, como infecção urinária ou hipoglicemias, por exemplo. “As pessoas ficam tão atentas ao que estão fazendo na tela que se esquecem de atender às necessidades mais básicas do corpo, como urinar ou comer”, destaca.

Conforme explica a ergonomista, alguns procedimentos podem transformar esta realidade. Em primeiro lugar, há que se ter muita atenção com o posto de trabalho. A mesa do computador tem de ter pelo menos 80 centímetros de profundidade, possibilitando a acomodação do monitor, teclado e o antebraço inteiro do trabalhador. “A cadeira deve ter encosto e acento ajustáveis. O apoio de braços é dispensável e até prejudicial. Além disso, é necessário um apoio para os pés, para evitar que o sangue se concentre nesta região e nas panturrilhas, causando problemas circulatórios – como a Trombose”, descreve. O teclado debaixo da mesa também não é recomendável.

O monitor é outra peça que exige precauções. De acordo com Jacinta, tem de ficar com a base na linha do olhar do operador e de frente para ele. “Se for lateralizado, pode causar deslocamentos da coluna cervical”, salienta. E nem o mouse escapa: a fisioterapeuta explica que o uso muito freqüente e errado do equipamento, movimentando-o com o braço, e não com o punho e a mão, como é o correto, gera problemas como contratura muscular, inflamações articulares e até tendinite.

Logo, a solução é adaptar os postos de trabalho ao bem estar dos colaboradores. Questão resolvida? Nada disso: há ainda outras precauções a serem tomadas. “Durante o dia, é fundamental que o funcionário se levante, caminhe e faça breves alongamentos. Isso ajuda na circulação e no relaxamento muscular”, diz Jacinta, que recomenda pausas periódicas de pelo menos dez minutos. Ela alerta também para o relax mental. “Uma paradinha para o café, um olhar para o horizonte, ajudam muito”, afirma, acrescentando que uma prática excelente para atingir estes benefícios é a ginástica laboral.

De parabéns, então, estaria a JME Informática, de Porto Alegre, que possibilita à equipe duas sessões semanais de exercícios orientados. “Um personal trainer vem e faz movimentos físicos leves e de relaxamento com todo mundo”, conta o diretor da empresa, Jorge Branco. “Adotamos este método no começo do ano passado, depois de notar que grande parte de nossos desenvolvedores mostravam-se muito estressados. De lá para cá, o ambiente melhorou. Nosso feedback tem sido muito positivo”, complementa.

O exemplo motiva o coordenador da Finep no Rio Grande do Sul, Vanderlan Vasconcelos. Conhecido internauta – não há um dia em que seu mailing não receba uma enxurrada de e-mails com informações e dicas das mais diversas, que vão do útil ao divertido -, ele confessa que chega a ficar oito horas em frente ao PC sem tomar os devidos cuidados. “Mas agora, com a notícia da Trombose e as explicações sobre o que fazer, vou assumir uma rotina de alongamentos laborais”, promete.

É um passo a ser seguido, conforme atesta Jacinta. Segundo a ergonomista, a prevenção é uma estratégia inteligente que deve ser adotada pelas empresas. “É muito menos oneroso prevenir que o funcionário adoeça do que depois ter de dispensa-lo para tratamento, por exemplo”, ressalta. Entretanto, ela recomenda que quem já adquiriu algum tipo de mal causado pelo excesso de computador procure médicos especializados o mais rapidamente possível e, depois de curado, passe a cumprir com os deveres para com a saúde. “Os métodos ergonômicos são fundamentais para a saúde e, logo, rendimento, do trabalhador e da empresa”, conclui.