Nos pequenos detalhes do dia a dia é que vamos percebendo as mudanças que as novas tecnologias causam em nossa vida. Me apercebi de uma deles hoje, quando recebi em minha caixa do correio a lista telefônica de 2013, da Listel de Porto Alegre. Este guia impresso tem exatamente 206 páginas, coisa que alguns anos atrás não admitiríamos menos de 500 páginas.
Parece uma coisa corriqueira, mas isso prova que a migração dos anunciantes esta se direcionando para outros veículos, e o grande responsável desta transformação é o avanço da tecnologia.
Com o advento da rede mundial, frequentemente este fenômeno se repete. A Enciclopédia Britânica é outro exemplo do que estou falando. Na década de 80, ter uma na estante da sala era símbolo de status. Com o surgimento da Wikipédia acabou o jantar da classe média, verbetes surgindo em velocidade estonteante, possibilidades de interferência no conteúdo e a flexibilidade de navegação do Hiperlink, entre outros motivos, contribuíram para que aquela enormidade de livros nas estantes perdessem o sentido. Sem falarmos no preço de tudo isso.
Mas, o abalo social do avanço da tecnologia, não foi sentido apenas no mercado e na característica dos produtos. Ele também esta se processando na política. E a grande transformação responsável por isso, a meu ver, é a mudança na arquitetura dos meios de comunicação.
Historicamente falando, se vasculharmos nos primórdios da imprensa escrita, encontraremos um fenômeno que ocorre hoje em dia novamente. Isto é, que o conhecimento é uma questão de índice!
Quando Gutenberg inventou a impressa dos tipos móveis, deu início a movimentação no campo do conhecimento, exatamente igual ao que aconteceu com o surgimento da Internet. Guardadas as proporções, Gutenberg, apenas abriu para o mundo a possibilidade do conhecimento se propagar de forma muito mais eficiente do que a dos copistas, nos mosteiros medievais. Nos mosteiros, as cópias eram feitas a mão, com a invenção do tipógrafo, as cópias começaram ser produzidas em escala industrial. Deste fenômeno, decorreu uma enxurrada de obras disponíveis ao grande público.
É obvio, que o número de obras disponíveis ao público consumidor crescesse na mesma escala em que crescia a distribuição. Em pouco tempo, se fez sentir o impacto desta dinâmica, e o ponto de tencionamento, se daria não mais na impossibilidade de acesso aos livros, mas onde encontrá-los.
Desta necessidade, é que surgiram dois tipos de obras. As Enciclopédias, que nascem para compilar, de forma um tanto superficial assuntos variados, para condensá-los em um único volume. Ou melhor dizendo, em alguns poucos volumes. Fenômeno que deu origem a própria Enciclopédia Britânica. E outro tipo de obra, as Obras de Referências.
O que são estas Obras de Referência? São publicações que surgiram para organizar a imensa Torre de Babel que estava se transformando o mercado editorial. De nada adiantaria a existência de uma infinidade de livros, se não tivéssemos como identificar onde eles se encontravam. Foi desta necessidade, que as Obras de Referência surgiram. Eram livros que continham a listagem das obras publicadas, e onde estas se encontravam. Sendo elas, a grande ferramenta do mecanismo que organizou as bibliotecas que pipocavam por toda a Europa.
Percebemos hoje uma movimentação parecida com aquela. A Rede de computadores mundial, assim como os Tipos Móveis de Gutemberg, fez circular o conhecimento que se decantou ao longo do tempo nas grandes bibliotecas modernas. E a Torre de Babel novamente se instaurou, assim como no passado. A Indústria reagiu da mesma maneira. Lembro que na segunda metade da década de 90, o Yoahoo, o Alta Vista, o Cade e tantos outros Sites de Busca responderam a esta necessidade, e por fim o Google, por todos os motivos já largamente discutidos, se fixou como padrão de Mercado.
Nele encontramos a mesma funcionalidade das antigas Obras de Referência, só que num suporte diferente. Ou seja, no meio digital.
A questão que se coloca sobre arquitetura é determinante. A antiga arquitetura de distribuição de informação e conhecimento, tanto do mercado editorial de livros, como dos meios de comunicação era a centralização. De um ponto centralizado, distribuía-se o conteúdo, caracterizando uma relação unilateral do emissor para com o receptor. Já, a nova arquitetura promete a horizontalização do fluxo informacional, acenando com a mesma questão da democratização do conhecimento.
Em tese, esta afirmação e verdadeira, mas na prática precisamos ter um pouco mais de cautela. A promessa política, desta vez, é que teremos a Emergência das Inteligências Coletivas em detrimento da Politização das Massas do pensamento passado.
A pergunta que me faço no momento é a mesma que Walter Benjamim fez com surgimento do Cinema. Por que o potencial revolucionário do Cinema não se efetivou? Dai, não temos outra alternativa, a não ser deixar em aberto esta resposta, para aderirmos a uma outra questão. Em vez de nos perguntarmos, o que a Mídia faz por nós? Não deveríamos perguntar, o que fazemos da Mídia?
Talvez, não teremos uma resposta muito diferente da que já foi obtida no passado! E quanto as páginas esvaziadas das publicações, apenas continuarão migrando para outro estágio de existência. E, certamente continuarão nesta dinâmica por muito tempo.