O melhor invólucro do comunismo não é a beleza do discurso pela democracia que sempre sufoca ou contra a pobreza da qual apenas suas elites burocráticas escapam. O casulo que melhor o protege é a mentira. Não me refiro à mentirinha da criança que tem receio das conseqüências pessoais do que fez ou não fez. Refiro-me à mentira como instrumento de ocultação trapaceira da verdade, para enfeitar o que é hediondo e dar nobreza ao que é desprezível. Refiro-me à mentira sistemática em favor da causa. Em nome dela predicava Brecht: \"quem luta pelo comunismo tem que dizer a verdade e não dizer a verdade; manter a palavra e não cumprir a palavra (...). Quem luta pelo comunismo tem de todas as virtudes apenas uma: a de lutar pelo comunismo\". É esse emaranhado de mentiras, por exemplo, que protege com extraordinária eficiência a terrível face do comunismo cubano desvelada no meu livro Cuba, a tragédia da utopia.
Quando foram abertos os Arquivos de Moscou – fato que só repercutiu no Brasil para os poucos que têm acesso à literatura estrangeira ou tomaram conhecimento do livro “Camaradas”, de William Wack – desfez-se a farsa que exibia como fantasmagorias e como vítimas da perversidade ocidental as mais engenhosas artimanhas e os mais inescrupulosos agentes soviéticos.
Cogita-se, agora, destampar os arquivos “ultra-secretos” dos tempos do regime militar. Um decreto presidencial do ex-exilado FHC determinou que eles permanecessem sob segredo por 50 anos. Confesso minha curiosidade em relação a tais documentos porque tenho interesse em conhecer a verdade. Por essa razão, aliás, debrucei-me sobre os pesados volumes que Élio Gaspari dedicou àquele período. Está ali toda a verdade? Não creio. Suponho, entretanto, que a abertura dos arquivos permitirá que dela nos aproximemos mais e que conheçamos melhor aquele período da história. As versões que circulam por aí servem sob medida para que muito inimigo da democracia pose como libertário e para que muito traidor se exiba como fiel e idealista. Sobre todos incide, é claro, o resguardo da vida privada e o manto protetor e pacificador da anistia, mas ele não pode continuar obsequiando os estrategistas da mentira.
O melhor invólucro do comunismo não é a beleza do discurso pela democracia que sempre sufoca ou contra a pobreza da qual apenas suas elites burocráticas escapam. O casulo que melhor o protege é a mentira. Não me refiro à mentirinha da criança que tem receio das conseqüências pessoais do que fez ou não fez. Refiro-me à mentira como instrumento de ocultação trapaceira da verdade, para enfeitar o que é hediondo e dar nobreza ao que é desprezível. Refiro-me à mentira sistemática em favor da causa.