Para nós outros, pobres batalhadores do dia-a-dia, aqui no extremo sul, nada surpreende. Afinal, não há políticas de desenvolvimento claras, precisas, perenes. O que fazer? Aquilo que os empresários vem fazendo há muito: matando 10 leões por dia, para provarem que as coisas ainda são viáveis. Quando matamos apenas 9, já sai o buxincho que não somos mais os mesmos e queremos viver de benesses dos governos.
Quando falo de políticas de desenvolvimento não falo apenas de aporte de dinheiro, de investimento, mas de definição de diretrizes: o que queremos; como queremos; como vamos fazer; como vamos fazer e para que e quem vamos fazer.
Vejam o exemplo da TV Digital, que sofreu novo adiamento, com mais 10 meses prazo.
É bem verdade que as entidades não são uníssonas e ainda falta uma agenda comum a ser apresentada. Mas de parte dos governos percebemos claramente que a questão tecnológica não é vista como estratégica e sempre relegada a segundo ou terceiro planos.
Aqui no estado nosso Secretário Kalil Sehbe tem feito “das tripas, coração”, mas andorinha sozinha não faz verão. Além das questões de política partidária, onde sabemos que os apoios às iniciativas variam de acordo com os interesses partidários.
Já no município não observamos qualquer movimento em canalizar as forças empresariais e das entidades para transformarmos Porto Alegre numa verdadeira tecnópole. Ou, meu sonho, um Vale do Silício dos Pampas.
Em dezembro último enviei sugestão ao então coordenador da campanha de nosso prefeito eleito, Deputado César Busatto, visando atingirmos ao menos 3 pontos:
- Geração de emprego;
- Produção local de insumos tecnológicos;
- Aproveitamento do Distrito Industrial da Restinga.
Sem o clamour ficcional que o termo “tecnologia”, infere nas pessoas, há produtos relativamente simples de serem produzidos com mão-de-obra sem muita especialização. Por exemplo: Gabinetes para computadores. Hoje importamos tudo que é vendido no estado, através dos integradores e distribuidores. Porém, na região da grande Porto Alegre existem um sem número de pequenas empresas com estamparias de chapas, que poderiam realizar este projeto. Também existem centenas de empresas produzindo transformadores e estabilizadores de tensão, que bem poderiam produzir as fontes para estes gabinetes.
O Deputado, cordial e atencioso como sempre, respondeu-me dizendo que levaria o assunto adiante. Porém, até o momento nada se ouviu falar.
Agora imaginemos a formação de Cooperativas, reunindo a massa desempregada na Restinga, sendo treinada com a colaboração de nossas universidades e escolas técnicas, que desenvolveriam projetos para a produção destes dois itens do exemplo acima? Imaginemos o retorno para o estado e para a cidade, além da economia e provável redução de preços lá na ponta, em função do barateamento do frete, apenas para ficar neste ponto?
Pode parecer muito pouco para levantar o ranking brasileiro em tecnologia, mas é um começo. Tudo tem que ter um começo, basta boa vontade e determinação política.
Daqui a pouco, projetos para a produção de monitores LCD, começam a aparecer. Têm empresários gaúchos com projetos há mais de 5 anos neste segmento.
Mas tudo isto somente será possível quando nossos governantes olharam o setor tecnológico como estratégico. Quando perceberem que por aqui podermos iniciar a equacionar uma serie de problemas sociais também. Nem vou citar o exemplo coreano, para não ser apedrejado. Em 10 anos saíram de uma economia agrícola, para serem exportadores de tecnologia. Até para nós.
Então, só não sabia que íamos cair, que não quis saber. Neste caso, nossos governantes.
Para nós outros, pobres batalhadores do dia-a-dia, aqui no extremo sul, nada surpreende. Afinal, não há políticas de desenvolvimento claras, precisas, perenes. O que fazer?