É verdade que o desprestígio da política e dos políticos é um fenômeno não restrito ao Brasil, resultado de um conjunto de fatores muito amplo e que abarca desde a crise dos grandes relatos ideológicos – \"ausência de sentido\" – passa pela pressão constante dos mercados sobre as instituições democráticas, para que elas se adequem à velocidade e ao pragmatismo da ‘Era Informacional’ e chega à multiplicação de governantes e parlamentares desqualificados, arrivistas, corruptos, muitos deles recrutados pelo crime organizado e pelos mais diversificados lobbies.
Em maior ou menor grau, esta situação afeta a vida de norte-americanos, franceses, japoneses, mexicanos e tem causado as mais diversas demonstrações de insatisfação, muitas delas explodindo em violência, como ocorreu recentemente nos subúrbios parisienses ou simplesmente em abstenção, como é comum nos países em que o voto não é obrigatório.
No Brasil, em 2002, demonstrar insatisfação e renovar o voto de confiança no sistema político era eleger Lula e o PT, como o fora para milhões de eleitores em 1989, 1994 e 1998. O curioso, é que nas eleições anteriores, a renovação deste voto era possível e crescia em adesões porque, de um lado, sempre restava a alternativa Lula - no caso do eleito trair a confiança do eleitor - e, de outro, sempre haveria o PT para vigiá-lo com rigor. Hoje, sabemos – sobretudo os petistas em sua consciência – pouco resta de um e de outro.
Em verdade, Lula e os dirigentes petistas sabem que, mesmo vencendo em outubro, nada será como antes. Não só porque deixaram de ser os atores da ressignificação da política no Brasil, imitando o PMDB do estelionato eleitoral do Plano Cruzado – com o qual cada vez mais se parecem - ou porque ofereceram novas figuras à galeria de ilustrres políticos, onde estão alinhados Sarney, Collor, ACM, Jader Barbalho, Maluf e tantos outros.
Nada será como antes, porque o desencanto e a desorientação iniciais de parte dos brasileiros com \"a ausência de Deus\" – ou de alternativas com algum sentido - já evoluem para uma maturidade política sem precedentes, onde votar nulo passa a medir o grau de confiança na democracia e suas instituições.
Neste sentido, anular o voto começa a ser entendido como um instrumento para dar uma maior ou menor legitimidade a um governante ou parlamentar eleito – e ao sistema como um todo - o que, na pior hipótese, fará o político, com um punhado de votos válidos, suar e ser mais zeloso para obtê-la, desde o início do seu mandato. Talvez nisso se resuma, mesmo que inadvertidamente, a maior contribuição do governo Lula e do PT à consolidação da democracia no Brasil, para cuja transparência \"muitos outubros virão\" e concorrerão. * Plinio Zalewski Vargas é vice-presidente do Fórum Permanente de Responsabilidade Social do RS/Fórum-RS