Mas existem outros males menos citados, mas que são tão ou mais perversos que os campeões de citação. Dentre estes estão o descolamento entre as candidaturas em níveis municipal e estadual/federal. A nação e a unidade da federação são entes abstratos, nós vivemos mesmo é no município e é lá que as coisas acontecem e que são discutidas as questões que nos afligem e que nos interessam mais diretamenmte. As eleições descasadas, tal como acontece hoje, são um convite para o descasamento, também, do eleitor com as questões práticas que lhe interessam e com a sensação de distância que se estabelece entre o eleitor e seus representantes estaduais e federais.
Outro complicador também são as eleições para o executivo e o legislativo de forma coincidente, tal como hoje acontecem. Isto faz com que os candidatos aos diversos cargos do executivo tenham uma importância maior do que a desejada enquanto os candidatos ao legislativo sejam praticamente deixados de lado. Isto gera, quase que invariavelmente, um descolamento entre o executivo e o legislativo fazendo com que governos não tenham a maioria necessária para governar, muitas vezes sem ser isto que o povo gostaria que acontecesse. E mais, a qualidade do legislativo, invariavelmente, deixa a desejar.
Em parte por estes males, em parte pela nossa cultura colonizada e cartorial, em parte pelos desencontros da vida moderna, mas, principalmente, pela nossa incapacidade de identificar e nos abstrair desses problemas e escolher conscientemente a quem dar nosso voto e em quem depositar nossas esperanças, nossa classe política, aparentemente, não está conseguindo aprimorar-se com o passar dos tempos e está chegando a algo que beira ao descrédito total. Isto tem remédio, é óbvio que sim, meio amargo e meio difícil, mas que pode-se tornar bem mais fácil se dermos a nossa contribuição para o processo.
Primeiro, conhecendo de fato as funções e os candidatos a cada cargo em disputa, em cada eleição que tivermos pela frente. Pessoas tem estaturas diferentes e um bom vereador pode nunca conseguir ser um bom deputado ou jamais conseguir administrar alguma coisa, como, ao contrário, alguém que nunca administrou nada pode ser um ótimo prefeito ou até presidente da República ou um brilhante parlamentar. Suas idéias e a aderência de seu pensamento ao que queremos ou propomos diz muita coisa.
Além disto, de uma maneira geral, partidos, no Brasil de hoje, são repósitórios de pessoas e interesses e não de idéias, mas podem significar, pelo menos, que tipo de interesse seus filiados podem, majoritariamente, ter e isto nos dá um bom indício para nossa escolha. Mais ainda, o perfil dos outros candidatos, ao mesmo cargo ou a outro cargo, das pessoas da coligação e do partido do candidato em análise pode, também, ser um bom indicativo dos propósitos de quem estamos analisando.
Mas, talvez, o principal seja a vida pregressa do candidato em análise. Na maioria das vezes, o eleitor tem a oportunidade de cassar o mandato do agora candidato ou reelegê-lo para o mesmo ou para outro cargo e, por isto, ele tem todo um mandato anterior para se balizar sobre se vale a pena ou não dar uma segunda chance àquela pessoa. No nosso país isto não é muito levado em conta e temos exemplos fortíssimos de candidatos que, se fossem funcionários de qualquer empresa, seriam demitidos sumariamente no primeiro período de experiência, mas continuam firmes e fortes na política.
Os empresários de software e serviços de informática, que são parte de um importante segmento econômico, teriam que ter o cuidado de consultar cada pessoa a quem tenham a mais remota chance de dar o voto para saber o que ele pensa daquela atividade, do setor, dos seus pleitos e dos seus problemas. Uma vez que a sua atividade é quem o faz viver e sobreviver, criar a família e prosperar ou não, esta deveria ser a sua principal preocupação. E este raciocínio vale para qualquer setor e categoria econômica e não somente para empresários de TI. Quero lembrar ainda que isto se reveste de uma importância ainda mais transcendental na medida que a atividade, além de nova, é extremamente mal entendida e desguarnecida de marcos legais e regulatórios e, portanto, depende umbilicalmente da atividade política para sua prosperidade.
E não só no executivo. Eu diria que, hoje, o legislativo, em certa medida, pode ser muito mais importante para o setor do que os governos municipais, estaduais e federal. Termos uma plêiade de parlamentares, quer sejam deputados ou senadores da República, quer sejam deputados estaduais e até vereadores, identificados com nossas causas, conquistas e sonhos é vital para o desenvolvimento da nossa atividade. E temos vários parlamentares pedindo nosso voto, de quem já conhecemos, de antemão, suas idéias e suas práticas, se seu discurso é coerente com sua prática, se ele realmente trabalha pelo setor etc etc etc. Dentre estes, empresários do setor concorrendo a assembléias legislativas, à Câmara Federal e até como suplente de senador. Não creio que haja alguma dúvida de que estes são candidatos natos a obterem nossos votos.
Além disto, seu sindicato patronal e a própria Federação Nacional das Empresas de Serviços Técnicos de Informática e Similares – FENAINFO possuem o “mapa” da atuação de cada um dos atuais parlamentares e governantes e pode lhe ajudar a decidir em quem votar e, por que não, quem apoiar. E isto é muito importante. Caso não entremos na batalha para ajudar de alguma forma os bons candidatos, aqueles que realmente interessam e nos interessam, temos a grande chance de não conseguirmos eleger políticos identificados conosco, nem com a transparência e a democracia e, sim, vermos uma miríade de gafanhotos dilapidar os nossos parcos recursos públicos.
Portanto, não adianta reclamar que o sistema político é um desastre, que a representação política está uma catástrofe ou que os governantes dão as costas para o povo e os problemas que nos afligem quando somos nós mesmos que os colocamos lá. O remédio é exorcizar, de todas as formas, esta fantasia delirante do voto nulo que, na prática, é inócuo - como dizem todos os especialistas, mas os surdos da causa não conseguem ouvir - e que só faria piorar o nível da representatividade nas casas legislativas e nos poderes executivos.
Também não adianta ficar jogando palitinho para decidir em quem votar ou, simplesmente, cruzar os braços e votar em um bom candidato. Eles esperam e precisam de nossa ajuda, quer seja como formadores de opinião na sociedade e nas nossas próprias empresas, quer seja como doadores de recursos para a campanha, quer seja promovendo debates e exposição de idéias, quer seja divulgando idéias e candidatos pela Internet, quer seja em “n” outras iniciativas, onde o céu é o limite para as possibilidades.
Por tudo isto e lembrando que precisamos reconstruir, em bases sólidas, uma nação, que insisto que está na hora de arregaçarmos as mangas e ir à luta com os nossos candidatos. O problema de se eleger não pode ser só deles, sob pena do mandato ser só deles, também. Pensem nisto e vamos à luta! Nós, a democracia e a Nação só temos a ganhar com isto. Podem ter certeza!
* Leonardo Humberto Bucher é diretor Executivo da Federação Nacional das Empresas de Serviços Técnicos e Similares – FENAINFO