O tema não é novo e creio que ele está longe de ser conclusivo. Novamente, está à baila a falta de qualificação para atender uma demanda, cada vez mais crescente, no mercado de TI gaúcho, conforme
matéria do caderno de empregos de ZH, do último domingo. As empresas possuem parte de razão quando dizem faltar especialistas para suprir determinadas vagas de tecnologias emergentes. Sem dúvida, os indicadores estão aí e são incontestáveis. Mas, o fato é que olhar para este contexto, apenas focalizando as necessidades não atendidas das empresas, pode passar uma falsa visão de que, por qualquer motivo, os nossos profissionais não buscam, ou não estão dispostos a buscar qualificação. O que ocorre no nosso segmento de mercado, já ocorreu em outros segmentos, quando estes estavam em ebulição. Ocorreu com a construção civil, com a área da saúde e tantas outras.Conheço excelentes profissionais de TI, que atingiram cargos de gerência e diretoria, que - ou optaram por seguir sua carreira como consultores independentes - ou ficaram fora do mercado de trabalho, uma vez que as empresas passaram a não mais demandar seus serviços -qualificados- em função de um orçamento que não comportava seus salários. Parece contraditório vermos essa demanda não atendida, quando temos tantos bons profissionais que se formam a cada semestre em um de nossos centros acadêmicos. Temos excelentes pólos tecnológicos que buscam apoiar os profissionais recém formados em sua colocação no mercado de trabalho, mas então por que não conseguimos mão-de-obra especialista? Se pensarmos que uma pessoa chega para trabalhar na construção civil como auxiliar do carregador de andaimes e almeja chegar um dia ser o chefe de obras, ou - por que não - o engenheiro, não encontraremos dificuldades em entender essa carência para a área de TI. Na mesma velocidade em que temos vagas sendo abertas, temos profissionais enquadrados como júnior, que vão se desenvolvendo, obtendo experiências, e um dia querem postular a um cargo de pleno e o pleno almejado ser senior. Isso para ficar apenas nos desenvolvedores, que é a maior escassez do mercado. Então, essa "briga" vai se protelando até que o funil vai ficando cada vez mais evidente e chegamos no ponto de discussão: O orçamento do projeto não comporta profissionais com um nível mais elevado de qualificação. Então existe uma migração de tecnologia; muitos correm, por exemplo, para o mercado SAP (que logo deverá estar saturado) em busca de oportunidades melhores. Essa volatilidade e a incerteza de desenvolverem-se em uma carreira sustentável faz com que muitos jovens, logo que ingressam no mercado de trabalho, já direcionem suas pretensões para as carreiras mais rentáveis. Enquanto não tivermos um mercado mais maduro, executando uma séria gestão de pessoas, proporcionando o desenvolvimento e capacitação dos mais jovens, teremos essas contradições e algumas ondas de tecnologias que propiciarão melhores ganhos, com uma concorrência mais acirrada.
* Camilo Duarte é gerente Financeiro da DBC Company