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Perspectivas para as empresas brasileiras nos Estados Unidos
Por marciosilveira@ecore.com
Criado em 15/04/2009 - 00:00
Apesar do clima de preocupação com os rumos da economia norte-americana depois da crise financeira que atingiu o país, há perspectivas positivas para as empresas que têm nos Estados Unidos seu mercado consumidor.
E não se trata de otimismo demasiado. É a constatação de que, por mais que haja uma retração no consumo, não será algo tão abrupto, pois, como já observou o professor Stephen Kanitz, os americanos continuam comendo, indo ao cinema, ao clube. Embora de forma mais lenta – se comparado com os últimos anos –, a roda da economia continuará girando, o que reflete positivamente nas empresas nacionais no Brasil e nos Estados Unidos.
A cautela manda as empresas diversificarem os mercados para não ficarem reféns de apenas um deles. Esta é uma atitude salutar, que não pode significar o abandono do território em períodos de instabilidade. Somente em dezembro de 2008, o Brasil exportou aos Estados Unidos 1,7 bilhões de dólares em mercadoria, o que equivale a 12,71% dos nossos embarques internacionais. A cifra, além de demonstrar a força de consumo dos Estados Unidos, faz daquele país o maior mercado consumidor dos produtos Made in Brazil, muito à frente do segundo colocado, a nossa vizinha Argentina, que fica com 6,80% das nossas exportações.
Conhecedoras do potencial desse mercado, empresas brasileiras já estão há algum tempo fincando bandeira em terras norte-americanas. Um exemplo desse movimento é a churrascaria Fogo de Chão, restaurante brasileiro com filiais nos Estados Unidos. São 12 na terra do Tio Sam e seis no Brasil, nenhuma delas no Rio Grande do Sul, Estado de onde é proveniente a rústica forma de assar o churrasco que dá nome ao empreendimento. Coisas da globalização.
Assim como a churrascaria, empresas de diferentes segmentos apostam na aproximação como forma de tomar fatias de mercado de empresas de outros países não tão competitivos. Nesse movimento de internacionalização em direção ao país de Barack Obama, é possível ver, inclusive, empresas que prestam serviços de alto valor agregado, como a Tecnologia da Informação. Isso mostra que o Brasil não é só um exportador de commoditties, mas também de capital intelectual.
E esse, aliás, é um fator fundamental para as empresas estadunidenses nesse momento de crise, em que buscam formas inteligentes de redução de custos por meio dos softwares e serviços de outsourcing prestados pelas empresas de TI brasileiras. De acordo com a consultoria IDC Brasil, os investimentos dos EUA na área aumentarão apenas 0,9% em 2009 em relação ao ano passado, tornando ainda mais concreta a máxima empresarial de que é necessário fazer mais com menos – e as companhias brasileiras ganham com isso. Ainda segundo a IDC, os mercados de software e serviços serão os menos afetados pela crise.
A e-Core, empresa especializada em desenvolvimento de software, sentiu, em 2008, a força da demanda americana por tais serviços. Com sede em Porto Alegre, a empresa teve que duplicar o escritório da sua subsidiária em White Plains (NY), para melhor atender seus clientes. Como resultado, fechou o ano com um faturamento de 769 mil dólares com a subsidiária, 50,4% a mais que os 511 mil dólares de 2007. O detalhe é que os números referem-se apenas aos serviços prestados localmente. A estratégia da e-Core, assim como de outras do setor, é atender empresas americanas através de um modelo offshore. Após algumas etapas conduzidas localmente, nos EUA, as atividades são continuadas pelos centros de desenvolvimento brasileiros, proporcionando vantagens em qualidade e redução de custos.
O momento é de cautela, mas também de oportunidade para o Brasil e os demais componentes do BRIC, que estão despontando em qualidade e competitividade, especificamente em TI. O diferencial em nosso favor está na cultura, que é mais semelhante com a americana do que o é a chinesa, a indiana e a russa. Soma-se a isso a apreciação do dólar frente ao real. Provocada, ironicamente, pela crise, a queda da cotação da nossa moeda torna o Brasil mais competitivo lá fora. Só isso já nos coloca numa posição de vantagem na briga pelos dólares americanos. Estabelecendo-se dentro das fronteiras do país, a situação se torna ainda mais promissora.
Márcio Silveira é diretor da e-Core
Olho:
Apesar do clima de preocupação com os rumos da economia norte-americana depois da crise financeira que atingiu o país, há perspectivas positivas para as empresas que têm nos Estados Unidos seu mercado consumidor.