Uma atividade que pouco se alterou ao longo dos anos, a leitura vive um processo de fragmentação.
Um excelente artigo publicado na edição The world in 2011, da revista The Economist – Curl up with a good screen, de Alix Christie e Ludwig Siegele – motivou uma reflexão sobre o quanto as novas tecnologias vão alterar o mercado editorial e a relação entre autores e leitores.
Enquanto 2010 passou à história como o ano em que os leitores eletrônicos e tablet se inseriram no cotidiano de leitores de diferentes perfis, 2011 será marcado pela ruptura com o formato atual do livro.
No ano passado, nos Estados Unidos, o mercado de leitores eletrônicos faturou US$ 11 milhões e a perspectiva é que neste ano o faturamento alcance os US$ 15 milhões, de acordo com o Forrester Research.
A ruptura com o formato convencional do livro está sendo potencializada com a popularização de dispositivos móveis – smartphones, iPad.
O novo paradigma é que o livro eletrônico deve ser encarado como app (aplicativos para download).
Nos Estados Unidos, as Diginovels (obras de ficção em formato digital) contam com recursos como vídeos, ilustrações em 3-D e aplicativos – recursos que tornam os textos interativos; o mesmo ocorre com alguns livros didáticos.
Essa verdadeira revolução tecnológica está mudando o livro e requer que os editores ampliem o conhecimento não apenas para desenvolver “produtos” diferenciados, mas para proteger autores e obras da constante ameaça da pirataria.
A indústria do livro está diante de novos desafios e oportunidades apresentadas pelo marketing online; algumas lojas norte-americanas – estabelecimentos reais, não online – já estão trabalhando com os books app.
“Clones” de leitores eletrônicos, produzidos em países emergentes, estão tornando o item mais barato e forçando um avanço veloz: a vida útil das baterias aumentou e o acesso sem fio para downloads deve se tornar padrão para dispositivos high-end.
O artigo cita que, por pressão da concorrência, os e-books devem ficar mais baratos em 2011.
Além disso, este ano deve marcar o lançamento do Google Editions – a terceira maior loja de livros digitais atrás de Amazon e Apple.
Nos Estados Unidos, em 2010, a participação do livro eletrônico nas vendas do mercado editorial foi de 10%; em 2011 será de 20%.
Diante desse cenário, os leitores se dividem entre os que apreciam o papel e os amantes da tecnologia.
Ou seja, o mercado editorial tem tratado a questão como se o e-book fosse de fato um livro.
Acredito, firmemente, que não seja. Há livros cuja narrativa convencional não se presta à mobilidade e interatividade.
Em paralelo, surgem novas narrativas como a japanese phone novel (obra de ficção japonesa) cujo conteúdo dá um novo impulso ao formato conto.
Não apenas a obra literária impressa e digital são diferentes, mas a relação entre o escritor e editor.
Tenho conhecimento, inclusive, de autores norte-americanos e europeus que comercializam diretamente para o formato digital sem passar pelos editores; a tendência é que novos autores sigam o exemplo.
Será, então, que o livro impresso e a profissão de editor estão vivendo os últimos suspiros? Não creio nisso.
Defendo – e acredito firmemente – na possibilidade de haver lucidez em elos da cadeia.
Entender que o e-book é um produto diferente do livro impresso é o primeiro passo para reinventar o negócio editorial.
Há público para os dois produtos e há profissionais com talento para reinventar ambos.
Como os autores do artigo, sei que o livro impresso nunca morrerá – da mesma forma como demonstram os “devotos” do vinil e do cinema.
No entanto, a vida dos livros depende da capacidade de se reinventar da indústria editorial e de seus profissionais.
* Lourdes Magalhães é presidente da Primavera Editorial, Executiva graduada em matemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com mestrado em Administração (MBA) pela Universidade de São Paulo (USP) e especialização em Desenvolvimento Organizacional pela Wharton School (Universidade da Pennsylvania, EUA).
Uma atividade que pouco se alterou ao longo dos anos, a leitura vive um processo de fragmentação.
Um excelente artigo publicado na edição The world in 2011, da revista The Economist – Curl up with a good screen, de Alix Christie e Ludwig Siegele – motivou uma reflexão sobre o quanto as novas tecnologias vão alterar o mercado editorial e a relação entre autores e leitores.