Com a relativa estabilidade da política e economia brasileira a partir do final da década de 90, o empreendedorismo no Brasil se popularizou a tal ponto que, hoje, o País possui uma das maiores taxas de empreendedores em estágio inicial do mundo. Apenas nos últimos 10 anos, o número aumentou 44%.
Outro fator determinante para o crescimento no número de empreendedores é que o imediatismo gerado pelo “advento da internet” derrubou por terra qualquer previsibilidade, gerando oportunidades para que empreendedores tomem coragem de colocar aquela ideia guardada há algum tempo em ação e abram as chamadas startups.
No passado, as empresas, em especial as de tecnologia, estavam dentro de uma zona de conforto na qual as evoluções de produto seguiam dentro de uma relativa previsibilidade. Havia uma evolução natural da tecnologia e era mais fácil saber onde apostar.
O papel das startups ganhou uma relevância inédita, sendo a inovação a palavra de ordem destas pequenas corporações. A ideia, no geral, é simples: como fazer diferente algo que já existe, mas de uma forma mais eficiente, barata ou fácil; como modernizar uma atividade tradicional, tornando-a mais rápida e menos trabalhosa.
Se antes, grandes investimentos em centros de pesquisa próprios garantiam uma vantagem tecnológica aos grandes conglomerados, hoje está comprovado que a criatividade e a inovação não necessitam estar cercadas por uma grande estrutura de laboratórios, pesquisadores, recursos materiais e humanos. Tudo isso ajuda, mas não impede que grandes ideias surjam de pequenas empresas, muito enxutas, com alto conhecimento e competência e, principalmente, muito dinâmicas.
A maior prova disso é a incerteza que ronda todos os gigantes da tecnologia, que não param de ver e rever jovens lançarem uma solução que explodem no mercado ou, até mesmo, explodem o mercado.
Os grandes grupos passaram, então, a observar o movimento das startups e rapidamente encontraram os meios para tirar o máximo proveito dos diferenciais dessas pequenas empresas. Por meio de programas de aceleração, de incentivos e de compartilhamento de recursos (técnicos, materiais, humanos etc), atraem as startups e, com isso, têm a chance de capturar as oportunidades em “primeira mão”.
Atualmente, há incubadoras para empresas de qualquer tamanho, desde as microempresas até embriões de microempresas – que nascem, em sua maioria, justamente como resultado de trabalhos de conclusão de cursos de graduação ou teses de mestrado. O poder público também está investindo em linhas de crédito para apoiar a inovação, embora o processo seja mais burocrático e lento.
Portanto, apesar das dificuldades de um cenário extremamente adverso - com um processo extremamente burocrático para a abertura de empresas, uma complexa e pesada carga tributária, além de uma infraestrutura logística que inviabiliza qualquer tentativa de escoamento de produtos com agilidade - as opções para empreendedores que queiram um apoio não faltam, apesar de, como visto acima, não podermos atestar a pureza das intenções destes apoios.
O que o empreendedor deve ter em mente é que o sucesso vai depender – além da capacidade, competência e empenho – de sua capacidade de analisar suas reais chances no mercado ante seus concorrentes e de uma dose de sorte para estar no lugar certo e no momento certo. Afinal, as startups têm todo o potencial para gerar valor, mas são estruturas frágeis que em uma eventual turbulência econômica serão duramente afetadas por serem uma aposta e trazerem riscos inerentes à atividade.
*Marcos Sakamoto é presidente da Assespro-SP