O Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou no último dia 9 o aumento da taxa Selic em 0,5 ponto percentual, com a mesma passando a valer 9,5% ao ano. Com isso, o Brasil retomou o posto de nação com a maior taxa de juros real do mundo, na ordem de 3,1% ao ano. Dado uma tendência de crescimento baixo do PIB em 2013 (2,48% segundo o último Relatório Focus do Banco Central) a eficácia de tal ação pode ser questionada.
Recentemente, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, havia anunciado a disposição da equipe econômica do governo de retirar o foco do crescimento econômico pelo consumo, passando a ênfase ao investimento. A ideia seria atender a crescente demanda com mais oferta, gerando mais produto em um quadro de inflação controlada.
Todavia, de forma até mesmo contraditória, temendo um recrudescimento dos indicadores inflacionários, em um cenário de volatilidade da taxa cambial provocado pela possibilidade de término do programa de recompra de títulos públicos norte-americanos por parte do governo daquele país, que resulta em uma injeção de cerca de US$ 85 bilhões por mês naquela economia; pelo aumento das commodities alimentares em dólar, em função do pessimismo da colheita agrícola no hemisfério norte e de já haver passado o auge da safra no Brasil; e pela iminência da majoração dos combustíveis, o Copom optou pelo conservadorismo entendendo que o impacto econômico e político de um crescimento dos preços é pior do que de um PIB baixo. Porém, os efeitos nocivos do aumento dos juros sobre a economia não podem ser ignorados.
A despeito da taxa de desemprego no Brasil ter caído para 5,3% em agosto, sendo a segunda queda mensal da desocupação e a menor taxa de desemprego do ano até o momento, juros mais elevados tendem a diminuir a atividade industrial, devido ao encarecimento do crédito ao produtor; a aumentar a dívida pública mobiliária; a arrefecer os índices da bolsa de valores brasileira; e a provocar queda do investimento em infraestrutura. Ou seja, juros altos caminham em direção inversa à produção de riquezas em uma nação.
Outra questão que parece ter sido deixada em segundo plano, ao se decidir pela elevação dos juros, foi a questão cambial. Com o aumento da taxa básica brasileira, combinada a manutenção da taxa de juros nos Estados Unidos (entre zero e 0,25 ponto percentual ao ano), existe uma tendência de maior atração de dólares pelo Brasil, valorizando o Real em relação à moeda norte-americana, no momento em que as exportações nacionais começam a reagir.
Mesmo que isso não traga um grande impacto nos produtos primários – principalmente devido à recuperação dos preços das commodities no mercado externo – o mesmo não pode ser dito em relação aos manufaturados produzidos aqui. Quanto menor for a taxa cambial, maior o preço do produto industrializado brasileiro no comércio exterior, em um contexto de competição com produtos como os chineses, cuja moeda, o Yuan, segue uma política de desvalorização artificial.
Segundo o Banco Central, o IPCA deve encerrar o ano em 5,81%, ainda dentro da previsão inicial de 4,5%, dois pontos percentuais para mais, dois para menos, ao passo que computados apenas os preços livres, a taxa atual estaria próxima de 9%. Ainda que o IPCA somente fique dentro da meta estabelecida para 2013 devido à rigidez com que o governo administra os preços controlados, que perfazem 25% do indicador, a situação atual não indica um “estouro da manada” ou uma corrida desenfreada às compras.
Nesse particular, alguns fatores poderiam explicar o comportamento do Banco Central ao optar pela elevação da taxa básica de juros brasileira. São eles, o início da corrida eleitoral com o governo temendo algum prejuízo ao desempenho de sua candidata à reeleição, caso a inflação fuja dos níveis pré-estabelecidos (2013 será o último exercício de inflação cheia antes das eleições de outubro do ano que vem); e a preparação do terreno para o aumento dos preços dos combustíveis, algo que terá de ocorrer, pois a Petrobrás tem operado com um prejuízo mensal de cerca de R$ 800 milhões, resultado de uma elevada carga tributária sobre o setor, que faz com que a estatal venda os derivados do petróleo a um preço abaixo do mercado internacional.
Mesmo podendo contar com outros instrumentos para fazer frente ao crescimento da demanda – como a indução ao aumento da oferta, dado as indústrias nacionais não estarem produzindo em sua plena capacidade – que necessitariam de um prazo maior para surtir efeito, a equipe econômica torna claro seu viés imediatista. Levando-se em conta esta abordagem, conclui-se que o incremento de 1,0% na taxa básica de juros, determinada nas duas últimas reuniões do Copom, foi uma medida deveras conservadora.
*Stefano Silveira é economista.