Recentemente assisti uma defesa de dissertação na UFRGS que resume-se a frase de um dos professores ao divulgar sua aprovação: \"Uma dissertação corajosa!\". Uma pesquisa sobre Assédio Moral em uma empresa estatal federal, sobre o quanto empresas e pessoas fazem de conta que não veem, assédio é normal, faz parte.
Assédio Moral é um mal silencioso e em TI é mais comum que gostaríamos, ele constrange, compromete o ambiente de trabalho em diferentes intensidades, estressando as pessoas assediadas, que com o tempo perdem a motivação, acomodam-se, resignam-se, apagando talentos e potenciais.
Não é a toa que algumas pessoas temam tanto a auto-organização. Adotar Agile fortalece o time, o senso coletivo, lhes dá voz, destaca o que é desperdício daquilo que é valor, chama a atenção para atitudes que cabem mais no divã de um psicanalista ou na cadeia que em um projeto de desenvolvimento de software.
Importante, não sei quem foi o primeiro a equiparar a pressão no carvão gerar diamantes e a pressão no trabalho gerar profissionais de sucesso, mas deve ter sido uma reencarnação do Taylor ou Fayol, pois é absurda! Pressão demais em gente só gera futuros problemas de pressão arterial e outras patogenias.

Assédio Moral - \"Conduta abusiva que se manifesta por comportamentos, palavras, atos e gestos que podem causar danos à personalidade, dignidade, integridade física ou psíquica de uma ou mais pessoas, colocando em risco seu(s) emprego(s) e degradando o clima de trabalho.\" (Hirigoyen, 1998).
Assédio vertical - é quando alguém com posição hierárquica ascendente submete subalterno a constrangimento ou situação vexatória, quer frente ao grupo ou isoladamente, podendo ser através de pressão desmedida, agressão verbal, uso de palavras de baixo calão, rebaixamento cognitivo, entre outros.
Assédio horizontal - ocorre entre colegas, motivado por diferenças, inveja, competição, discriminação racial, gênero, costumes, via de regra praticados de forma silenciosa, através de boatos, sabotagem, expondo, cercando ou isolando, usando os mesmos ardis do assédio vertical, mas entre seus pares.
Quem não conhece profissionais que ao serem contratados entram cheios de iniciativa, interesse, engajamento, vontade de fazer acontecer e crescer, mas que após alguns meses se acomodaram, sempre na defensiva, fazendo o mínimo necessário para não serem despedidas, aguardando as férias e a aposentadoria.
Em diferentes leis e projetos de lei municipais temos: \"Considera-se assédio moral todo tipo de ação, gesto ou palavra que atinja, pela repetição, a auto-estima e a segurança de um indivíduo, fazendo-o duvidar de si e de sua competência, implicando em dano ao ambiente de trabalho, à evolução da carreira ou estabilidade do vínculo empregatício do funcionário:\"
O Brasil é o paraíso dos excessos e desmandos porque aqui a moral é subjetiva, princípios são peças de marketing, por isso a política brasileira é o que é, um pais em que discriminação racial, machismo, prepotência, arrogância e vantagem é tradição, malandragem, traço cultural que muitos se orgulham.
Há grandes empresas que dizem que todos são iguais, mas o diretor ou gerentes são dados a excessos, xingam, gritam, exigem mais do que é possível, o nome disso é ASSÉDIO VERTICAL, palavras de baixo calão não são \"força de expressão\" e exigir trabalho em excesso não é desafio, é EXPLORAÇÃO.
Muitos funcionários aceitam sorrindo as ofensas e desmandos por precisarem do emprego, alguns pseudo-líderes lavam as mãos, outros pedem ao assediado que procure o assediador (muitas vezes hierarquicamente acima) e se resolva com ele, é tão injusto quanto pedir a uma mulher agredida que vá para o quarto e bata um papo cabeça com seu agressor ... precisa mesmo é de polícia!
Isso é nosso Brasil, onde alguns chefes e colegas pressionam e discriminam com frases de baixo calão por anos a fio, os mais simplistas se defendem dizendo que é preciso aprender a lidar, é apenas estilo, expressões idiomáticas, faz parte do trabalho, ... previsível em um país que prima pela falta de moral e ética.
Tem assediado que justifica o chefinho e os colegas, se sente culpado pela falta de educação e de limites dos outros, talvez a \"sindrome de estocolmo\" se aplique não só a sequestrados, mas também a assediados. Quando se sentir assim, lembre que o dimensionamento, perfil e verba de sua equipe foi planejado, assim como a pressão e eventuais impropérios verbalizados.
Lugar de profissional sem moral, sem valores, desbocado, assediador, \"genioso\" como alguns dizem, deveria ser na cadeia, mas aqui no Brasil são exatamente os que se impõem e crescem, afinal, fazem qualquer coisa para atingir os objetivos ... atropelam, mentem, acuam, sabem explorar ao máximo, logo, merecem ser promovidos.
O primeiro passo é a conscientização, pois enquanto vivermos em uma cultura sexista, racista, predatória e agressiva, enquanto seguirmos a Lei do Gerson (tirar vantagem) e a Lei Ricúpero (esconder o que é ruim) teremos muitas empresas éticas só na fachada, ouvidorias surdas-mudas, endomarketing mentirosos, mas perceber que o problema existe é o primeiro passo.
Desejo a todos um 2014 rico no desafio de nos reinventarmos, que todos se motivem a se desenvolver e correr atrás de seus sonhos.
E sua empresa? É ética ou varre para baixo do tapete? As pessoas são respeitadas ou tratadas como um mal necessário? As metas e prazos são factíveis, sustentáveis ou são incompatíveis com o dimensionamento das equipes? Comenta aqui ...