TROPAS

Exército alemão se atrapalha com o S/4

Go live nas forças armadas da Alemanha do novo ERP da SAP vai se atrasar.

05 de dezembro de 2025 - 05:44
Alemanha quer ser uma potência militar. Foto: Depositphotos.

Alemanha quer ser uma potência militar. Foto: Depositphotos.

As forças armadas da Alemanha devem atrasar em quase um ano a entrada em funcionamento do seu novo sistema de gestão, o S/4 Hana da SAP. 

Segundo revela a Spiegel, o go live estava previsto para 27 de outubro, mas deve ficar mesmo para o segundo trimestre de 2026.

A maior revista semanal do país obteve documentos do Ministério da Defesa, nos quais a justificativa para o atraso é que a “transferência de dados sem erros não pode ser assegurada de forma confiável neste momento” e que o período de testes já havia sido prolongado, tornando a data original inviável. 

O sistema atual do exército alemão também é da SAP e foi implementado originalmente em 2009. 

O chamado SASPF é responsável por toda a logística da tropa, desde a aquisição de armamentos até o pedido de peças de reposição, além do monitoramento do estado operacional dos equipamentos.

O Ministério da Defesa confirmou os atrasos na implementação do S/4 Hana e afirmou que há “necessidade de ajustes” no software, destacando que a parte de gestão de pessoal, um elemento chave para o funcionamento da tropa, já passou pela atualização. 

O adiamento em outras áreas “não impacta a tropa e não compromete a capacidade operacional atual”, pois o funcionamento do sistema antigo continua garantido, aponta o Ministério da Defesa.

Segundo os documentos vistos pela Spiegel, a migração para o S/4 foi decidida pelo fim da manutenção padrão do sistema até o final de 2027, com o fim definitivo do suporte em 2030. 

A Spiegel fala que o projeto foi precedido por “anos de preparação”, sem dar maiores detalhes. Vale lembrar que o S/4 foi lançado em 2015, mas a migração se tornou um tema quente mesmo nos últimos quatro ou cinco anos. 

Em outro relatório interno de setembro visto pela Spiegel, são mencionadas “funcionalidades insuficientes” e “prontidão operacional inadequada”. 

A diretoria da SAP teria reconhecido em agosto “qualidade insuficiente do software” e recomendado adiar o início.

Projetos de ERP são complicados e as migrações para o S/4 apresentam uma camada adicional de complexidade porque envolvem também mudanças na infraestrutura e no modelo de licenciamento.

Dito isso, também não é como se o exército alemão fosse o exemplo de eficiência que o leitor brasileiro possa imaginar. A instituição é mais conhecida na Alemanha por não conseguir fazer nada particularmente rápido, por problemas que vão além de aspectos técnicos.  

O que não era um problema até pouco tempo atrás agora é. Depois da invasão da Ucrânia e mais ainda depois de que Trump se tornou o presidente dos Estados Unidos, a Alemanha colocou nas suas prioridades ampliar a força do seu exército.  

Logo depois da invasão, em 2020, o governo criou um fundo especial de € 100 bilhões de euros para financiar melhorias na área de defesa. Só no ano que vem, a expectativa é que o orçamento fique em € 82,7 bilhões em 2026 (incluindo fundos especiais), com o objetivo de atingir 2% do PIB.

Recentemente, por exemplo, o país decidiu reintroduzir o serviço militar e aumentar o efetivo do exército de 180 mil para 260 mil soldados até 2035.

No meio disso tudo, certamente seria interessante o ERP funcionar, o que coloca alguma pressão em cima da SAP, a maior empresa de tecnologia do país.