FUTURO

O fim da última geração de programadores

Em cinco a 10 anos, não fará sentido contratar pessoas apenas para digitar código.

24 de setembro de 2025 - 12:39
Éric Machado (Foto: Divulgação)

Éric Machado (Foto: Divulgação)

Durante décadas, programar foi sinônimo de inovação. As linhas de código ergueram a base do mundo digital e tornaram-se símbolo de status profissional. Mas a ascensão da inteligência artificial e das plataformas low-code/no-code indica uma ruptura inevitável: a profissão de programador tradicional caminha para o desaparecimento. Não é o fim da tecnologia, e sim o início de uma era em que o humano deixa de ser executor e passa a ser estrategista.

A transformação já está em curso. Segundo a Gartner, até 2026, 80% dos novos aplicativos corporativos serão desenvolvidos com plataformas de baixo código ou assistentes de IA. O que antes demandava equipes inteiras hoje pode ser feito em minutos, inclusive por profissionais de negócios sem formação em programação. Relatório da McKinsey reforça essa tendência: até 60% do trabalho de codificação realizado hoje por desenvolvedores pode ser automatizado. O horizonte é claro: em cinco a dez anos, não fará sentido contratar pessoas apenas para digitar código que uma máquina pode gerar de forma mais barata, rápida e confiável.

Isso, no entanto, não significa obsolescência do papel humano, mas significa redefinição. A Forrester prevê que, até 2030, funções limitadas à codificação manual estarão em declínio, enquanto cargos como arquiteto de soluções digitais, engenheiro de IA e estrategista multi-cloud estarão entre os mais valorizados. O mercado já aponta para profissionais capazes de integrar sistemas, garantir governança, manter a segurança em ecossistemas digitais e traduzir problemas complexos em decisões estratégicas.

É natural que surjam objeções a esse cenário. Afinal, ainda há empresas que dependem de programadores para sistemas legados, manutenção ou adaptações pontuais. Mas essa é uma questão transitória: assim como operadores de telefonia e datilógrafos tiveram papel vital em seus tempos e depois foram substituídos pela evolução das ferramentas, o programador de teclado tende a se tornar figura histórica. O padrão é recorrente: tarefas operacionais são absorvidas pela automação, e a demanda migra para funções de maior valor cognitivo.

O futuro exigirá outra postura. O estudo do Fórum Econômico Mundial aponta que 44% das habilidades atuais serão transformadas até 2027. A vantagem competitiva não estará em escrever código, mas em saber formular boas perguntas, definir objetivos claros, avaliar riscos e liderar times em ambientes digitais cada vez mais complexos. A IDC estima que os investimentos globais em inteligência artificial chegarão a US$ 500 bilhões até 2027, o que só reforça a escala dessa mudança.

A conclusão é inevitável: a última geração de programadores já nasceu. O código passará às máquinas, mas o impacto continuará sendo humano. Arquitetos, estrategistas e líderes digitais ocuparão o espaço antes reservado ao programador clássico, garantindo que a tecnologia deixe de ser apenas execução e se torne instrumento de transformação. Nesse novo contexto, a diferença não estará em digitar comandos, mas em dar direção.

*Por Éric Machado, CEO da Revna Tecnologia.