Werner Vogels durante o Re:Invent 2025. Foto: divulgação.
Werner Vogels, Chief Technology Officer (CTO) da Amazon e principal arquiteto e líder tecnológico por trás da AWS, anunciou que a sua apresentação no Re:Invent 2025, evento anual da companhia que reuniu 60 mil pessoas em Las Vegas entre os dias 1 e 4 de dezembro, seria a última depois de um ciclo de 14 anos.
“Não vou sair da Amazon nem nada do tipo, mas acho que, depois de 14 Re:Invents, nós precisamos ouvir novas vozes. Há tantos engenheiros incríveis na Amazon com ótimas histórias para contar, ensinar e ajudar. Esta é a minha decisão para garantir que vocês ouçam vozes diferentes além da minha”, explicou Vogels.
Na sua fala, de cerca de uma hora e meia, o CTO escolheu falar sobre as competências que considera mais necessárias para os desenvolvedores na era dos agentes autônomos.
“Será que a IA vai roubar meu emprego? Talvez. Eu me transformei. Algumas tarefas que realizamos em determinadas escalas tornaram-se obsoletas. Então talvez devêssemos reformular e reestruturar essa pergunta: será que a IA vai me tornar obsoleto? Absolutamente não, se você evoluir”, afirmou Vogels.
O holandês comparou o período atual à Renascença, dizendo que as qualidades dos cientistas daquela época são igualmente relevantes nos dias de hoje. Segundo o CTO, a primeira e mais importante dessas virtudes é a curiosidade.
“A curiosidade é fundamental. Como desenvolvedores, vocês precisam estar em constante aprendizado, pois tudo muda o tempo todo. E todo desenvolvedor que conheci tem esse instinto de desmontar algo e ver como funciona. Existe uma motivação por trás disso, o desejo de entender, de melhorar, de construir. É preciso proteger esse instinto, manter a curiosidade, porque a curiosidade leva ao aprendizado e à invenção”, destacou Vogels.
Outra qualidade ressaltada pelo executivo é “pensar em sistemas” em vez de partes isoladas. Não no sentido de sistema de computador, mas da palavra sistema em si, como um conjunto de coisas, pessoas, células ou o que for, interconectadas de tal forma que produzem um comportamento biotecnológico ao longo do tempo.
“Todo sistema dinâmico é moldado por ciclos de feedback. Ciclos de reforço, às vezes chamados de ciclos positivos, amplificam a mudança. Ciclos de balanceamento, com ciclos negativos, neutralizam a mudança e levam o sistema de volta ao equilíbrio. Ao identificar catalisadores como esses, é possível perceber como pequenas mudanças bem aplicadas podem alterar o comportamento geral do sistema. E, para construir sistemas resilientes, é preciso compreender o panorama geral”, aprofundou Vogels.
A terceira qualidade levantada pelo doutor é a comunicação, que é importante até mesmo para ajudar a desenvolver mecanismos para reduzir a ambiguidade da linguagem natural nas máquinas, de modo que elas possam criar lógica.
“Ao entrar nesse mundo de perspectivas, você percebe que a capacidade de expressar seu pensamento com clareza é tão crucial quanto o próprio pensamento. É por isso que acredito que, acima de tudo, uma das coisas mais importantes que um engenheiro ou líder técnico pode fazer por sua carreira é desenvolver fortes habilidades de comunicação”, opinou Vogels.
Outra característica importante para o veterano é que o desenvolvedor seja “dono” do seu próprio software, pegando para si a responsabilidade pela qualidade do trabalho.
“Codificar linha por linha é bom, mas apenas se você prestar muita atenção ao que está sendo construído. Não podemos simplesmente acionar uma alavanca e esperar que algo bom aconteça. Isso não é engenharia de software, é aposta. Lembre-se: o trabalho é seu, não das ferramentas de IA”, aconselhou Vogels.
Já a última qualidade de um renascentista ressaltada pelo executivo é ser um polímata, uma pessoa com conhecimento profundo e expertise em múltiplas áreas, indo além de um único campo e buscando conexões entre eles.
“Da Vinci foi provavelmente o melhor exemplo de polímata, pois atuava em muitas disciplinas diferentes. Eu não espero que todos vocês se tornem um Da Vinci, mas vocês devem olhar para o seu conhecimento além do domínio profundo da área”, disse Vogels.
Para o CTO, as habilidades necessárias para o sucesso na função são uma combinação única de competências pessoais, conhecimento técnico aprofundado e domínio do setor.
“Um desenvolvedor de banco de dados que entende de desempenho de front-end ou arquiteturas de clientes consegue tomar decisões arquitetônicas mais acertadas, pois compreende como seu trabalho impacta o sistema como um todo. Essa amplitude de conhecimento proporciona a perspectiva necessária para aprimorar o que você desenvolve, pois você entende os detalhes do processo”, explicou Vogels.
Werner Vogels é uma das figuras mais influentes do mundo em tecnologia de nuvem. O executivo ingressou na Amazon em 2004 e se tornou o CTO em 2005, sendo responsável por impulsionar a visão e inovação tecnológica da empresa.
Vogels foi uma força crucial na reestruturação da arquitetura de software da Amazon, transformando-a em uma plataforma de serviços distribuídos que serviu de base para a criação e escalabilidade da Amazon Web Services (AWS).
Além disso, o holandês de 67 anos anos é o responsável por popularizar a filosofia de engenharia "Você constrói, você executa" ("You build it, you run it"), um princípio fundamental do movimento DevOps.
Vogels é cientista da computação com Ph.D. pela Vrije Universiteit Amsterdam, nos Países Baixos, onde pesquisou sistemas distribuídos.
*Luana Rosales participou do AWS Re:Invent, em Las Vegas, a convite da AWS.
