Quanto mais nos aproximamos de outubro, mais veementes se tornam os apelos para que os eleitores não anulem seus votos. São apelos legítimos, mas estão muito longe de oferecer argumentos sólidos a um bom número de brasileiros, que justifiquem um renovado voto de confiança no sistema político.

É verdade que o desprestígio da política e dos políticos é um fenômeno não restrito ao Brasil, resultado de um conjunto de fatores muito amplo e que abarca desde a crise dos grandes relatos ideológicos – "ausência de sentido" – passa pela pressão constante dos mercados sobre as instituições democráticas, para que elas se adequem à velocidade e ao pragmatismo da ‘Era Informacional’ e chega à multiplicação de governantes e parlamentares desqualificados, arrivistas, corruptos, muitos deles recrutados pelo crime organizado e pelos mais diversificados lobbies.

Em maior ou menor grau, esta situação afeta a vida de norte-americanos, franceses, japoneses, mexicanos e tem causado as mais diversas demonstrações de insatisfação, muitas delas explodindo em violência, como ocorreu recentemente nos subúrbios parisienses ou simplesmente em abstenção, como é comum nos países em que o voto não é obrigatório.

No Brasil, em 2002, demonstrar insatisfação e renovar o voto de confiança no sistema político era eleger Lula e o PT, como o fora para milhões de eleitores em 1989, 1994 e 1998. O curioso, é que nas eleições anteriores, a renovação deste voto era possível e crescia em adesões porque, de um lado, sempre restava a alternativa Lula - no caso do eleito trair a confiança do eleitor - e, de outro, sempre haveria o PT para vigiá-lo com rigor. Hoje, sabemos – sobretudo os petistas em sua consciência – pouco resta de um e de outro.

Em verdade, Lula e os dirigentes petistas sabem que, mesmo vencendo em outubro, nada será como antes. Não só porque deixaram de ser os atores da ressignificação da política no Brasil, imitando o PMDB do estelionato eleitoral do Plano Cruzado – com o qual cada vez mais se parecem - ou porque ofereceram novas figuras à galeria de ilustrres políticos, onde estão alinhados Sarney, Collor, ACM, Jader Barbalho, Maluf e tantos outros.

Nada será como antes, porque o desencanto e a desorientação iniciais de parte dos brasileiros com "a ausência de Deus" – ou de alternativas com algum sentido - já evoluem para uma maturidade política sem precedentes, onde votar nulo passa a medir o grau de confiança na democracia e suas instituições.

Neste sentido, anular o voto começa a ser entendido como um instrumento para dar uma maior ou menor legitimidade a um governante ou parlamentar eleito – e ao sistema como um todo - o que, na pior hipótese, fará o político, com um punhado de votos válidos, suar e ser mais zeloso para obtê-la, desde o início do seu mandato. Talvez nisso se resuma, mesmo que inadvertidamente, a maior contribuição do governo Lula e do PT à consolidação da democracia no Brasil, para cuja transparência "muitos outubros virão" e concorrerão. * Plinio Zalewski Vargas é vice-presidente do Fórum Permanente de Responsabilidade Social do RS/Fórum-RS