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Empresa não libera descontos sem fornecimento de CPF (Foto: Divulgação)
A RaiaDrogasil, rede de farmácias formada pela Droga Raia e Drogasil, compartilha sua base de dados com a RD Ads, empresa da rede focada em anúncios, para vender uma curadoria específica de propagandas de anunciantes para cada um de seus clientes.
Uma matéria recente do UOL mostrou o tamanho do negócio que a rede de farmácias criou em cima dos dados de um total de 48 milhões de pessoas que frequentam a rede.
Segundo a publicação, o anunciante entra em contato com a companhia e detalha que tipo de público pretende atingir.
Os alvos são identificados por meio do banco de dados da RaiaDrogasil, que, então, direciona os anúncios a pessoas específicas não apenas em seu site, como também em todas as redes sociais.
Além disso, os dados fornecidos pela RaiaDrogasil possibilitam que anunciante estabeleça até 20 filtros sobre o cliente, incluindo tipos de produtos que compra, idade, sexo, intensidade de gastos, região e dias em que costuma comprar.
Tudo isso é feito com base no CPF dos clientes, obtido como condição para concessão de descontos de até 70% na hora do pagamento, e do histórico de compras dos consumidores.
De acordo com o UOL, os descontos são na verdade uma isca elaborada para captar dados, uma vez que os preços normais, sem redução, são artificialmente inflados.
Enquanto uma caixa de 12 comprimidos de um genérico do anti-inflamatório Nimesulida custa R$ 31,78 sem descontos nas lojas da rede na capital paulista, e cai para R$ 8,50 com o uso do CPF (redução de 73%), uma rede de hospitais privados pagaria apenas R$ 4,39 na mesma medicação.
Segundo aponta o UOL, a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (Cmed), ligada à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que regula os preços de medicamentos, não tem uma norma sobre coleta de dados como uma condição obrigatória para a concessão de descontos.
No início deste ano, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), órgão independente do Poder Executivo criado para supervisionar o cumprimento da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), decidiu intensificar a fiscalização de farmácias e drogarias.
Na época, o motivo já era a coleta excessiva de dados pessoais de clientes como condição para a concessão de descontos em produtos.
Como aponta o g1, o órgão considera que a prática representa um risco de vazamento de dados, como o CPF, RG, endereço e biometria. As lojas estariam repassando as informações obtidas a terceiros, como os programas de fidelização, sem notificar o titular.
De acordo com a ANPD, também falta transparência na utilização dos dados coletados, sem esclarecimento nos sites institucionais dos estabelecimentos.
Muitas vezes, os dados seriam solicitados em busca de traçar um perfil publicitário do cliente sem deixar isso claro, por exemplo.
Em junho, Vitor Bertoncini, o próprio CEO da RD Ads, disse no podcast InvestNews BR que, nos Estados Unidos, a exigência do Social Security Number, número de identificação pessoal no país, seria caso de polícia.
Procurada pelo UOL, a rede reiterou em nota que “não condiciona a concessão de descontos à identificação pessoal” e que os descontos são verídicos.
Mesmo assim, a reportagem do UOL recebeu a informação de que o desconto só seria concedido mediante o CPF ao visitar diversas unidades da RaiaDrogasil.
A empresa, entretanto, afirma que as informações são vendidas de forma anônima.
Este é um detalhe que a Autoridade Nacional de Proteção de Dados ainda precisa definir se fere ou não a lei.