
Um dia polêmico para a arbitragem da Copa do Mundo: assim ficou marcado este último domingo do Mundial. Enquanto na partida Inglaterra x Alemanha o juiz não viu um gol inglês, em que a bola entrou 33 cm , em outro jogo foi validado o primeiro gol da Argentina contra o México, em que o atacante Carlos Tevez estava impedido.
No caso argentino, a exibição acidental do replay no próprio estádio trouxe à tona a necessidade de auxílio eletrônico à arbitragem no futebol. Já em relação ao ocorrido no jogo da Inglaterra, o próprio capitão da seleção, Steven Gerrard, pediu à FIFA que passe a adotar “a tecnologia” na arbitragem.
“Não sou especialista, não sei se a tecnologia aplicada na linha do gol poderia mudar as coisas, mas a tecnologia hoje nos daria o gol e muita confiança para vencer os alemães”, protestou Gerrard.
Esse é também o tom da campanha promovida pelo site Máfia do Apito, que propõe mostrar o quanto os erros de arbitragem interferem no placar dos jogos de futebol.
Desenvolvido pela FP2 Tecnologia, fábrica de software com sede na cidade gaúcha de Santa Maria, o Máfia do Apito é mantido por Fernando Prass, diretor da empresa e também professor do curso de sistemas da informação da Ulbra.
“A ideia não é expor os equívocos do árbitro, mas sim demonstrar o quanto a tecnologia pode diminuir significativamente estes erros. Montamos o site com o objetivo de discutir futebol e também colocar a TI como instrumento na busca por um placar mais justo”, explica Prass, principal responsável pelo conteúdo do portal.
Embora o projeto não tenha nenhuma relação com a proposta comercial da FP2, visto que a empresa não trabalha com softwares em conjunto com o hardware, Prass acredita que caso a arbitragem eletrônica viesse a ser adotada as empresas de TI encontrariam aí um mercado promissor.
“A TI poderia auxiliar não apenas nos sistemas de reconhecimento de imagens, mas também com ferramentas de estatísticas a partir de um chip implantando na bola, com o qual seria possível obter dados como maior tempo de domínio de campo, por exemplo”, analisa o diretor.
Entre as alternativas para reduzir os erros de arbitragem é apontada a adoção de chips nas bolas – um sensor de radiofreqüência avisaria a arbitragem se o chute entrou ou não – além da consulta a replay, que serviria para o juiz consultar as imagens captadas pela câmera de televisão e discutir com o quarto árbitro antes de tomar a decisão.
Entretanto, a FIFA parece não ter interesse em incluir mais tecnologia nos esportes: ambas as hipóteses têm sido descartadas com argumentos como aumento de custos e paradas freqüentes durante as partidas.
Nesse sentido, um dia antes de iniciar o Mundial, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, insistiu que não havia lugar para câmeras ou chips em bolas na Copa. "Um jogo sempre precisa ter um pouco de polêmica. Caso contrário, fica chato", argumentou. Na ocasião, o secretário-geral da entidade, Jérome Valcke, foi ainda mais claro. “A porta está fechada para a tecnologia", frisou ele.
Reforça a posição da FIFA a declaração emitida nesta segunda-feira, 28, na qual denomina a exibição do primeiro gol da Argentina contra o México como um erro.
"Isso não deveria acontecer. Os replays podem ser mostrados, mas não quando há situações controversas. Nós trabalharemos nisso, e será mais rígido no futuro. Tudo deu muito certo até agora. A última noite foi um erro. Não deverá acontecer de novo", declarou o porta-voz da entidade, Nicolas Maingot.
O que está mais próximo de ser adotado ainda é a adoção de um árbitro atrás da goleira, prática já testada na liga de futebol europeu 2009-2010.
Em que pese a resistência da FIFA, a adoção da arbitragem eletrônica ganha cada vez mais adeptos. Ao menos é o que indica a pesquisa realizada pelo Máfia do Apito: ainda em fase parcial, cerca de 80% dos respondentes se dizem favoráveis ao uso de tal recurso.
Com previsão de encerrar a pesquisa dentro de 15 dias, o portal já consultou cerca de 300 pessoas entre colunistas de esportes, tecnologia e até mesmo economia, além de outras que estão respondendo a pesquisa voluntariamente no site.
“Os que se posicionam contra, argumentam que o recurso irá acabar com a discussão do futebol e que as partidas se tornariam eternas, com infinitas análises de lances, o que poderia ser facilmente resolvido com a determinação de um número limitado de revisões”, defende Prass.
Outra sugestão do professor inclui que apenas lances capitais sejam passíveis de revisão na TV e a penalização da perda de uma solicitação caso o erro não seja verificado.
A pesquisa sobre a utilização ou não da tecnologia na arbitragem pode ser respondida na página do site e, além da opinião sobre o recurso, também questiona erros históricos de arbitragem, que serão incluídos em uma sessão especial no portal.
“Certamente o erros das partidas deste domingo terão seu espaço garantido. E a sessão lembra isso, que o juiz não rouba, ele erra”, conclui Prass.