RUMOS

Pacto Alegre mostra plano para o RS

Universidades mostram projeto consistente com apoios internacionais de peso.

21 de maio de 2024 - 10:49
Centro de Porto Alegre. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Centro de Porto Alegre. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

O Pacto Alegre, um movimento pró-inovação liderado pelas maiores universidades do Rio Grande do Sul, fez uma movimentação pública para se posicionar na discussão sobre o futuro do Rio Grande do Sul, depois das enchentes extremas que causaram caos no estado.

Em nota, divulgada nesta segunda-feira, 20, o Pacto Alegre revela que algumas das ideias já foram apresentadas ao prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB) e ao governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), em reuniões realizadas na última semana. 

A chamada “Estratégia de Resiliência e Inovação Social Emergência Climática POA-RS” menciona em sua introdução (leia o texto na íntegra aqui) a necessidade de “respostas flexíveis, adaptadas ao nosso contexto” e coloca uma lista de objetivos “já mapeados na literatura internacional de grandes desastres e crises humanitárias”.

Eles são cinco: prevenir a migração forçada, ofertar assistência e proteção às pessoas, facilitar a migração como estratégia de adaptação das pessoas afetadas, melhorar a resiliência das comunidades afetadas, e contribuir com a reativação da atividade econômica e do trabalho.

O trabalho do Pacto Alegre no seu projeto para recuperação do Rio Grande do Sul tem o apoio de um grupo de trabalho com alguns pesos pesados.

Um deles é Santiago Uribe, um dos principais atores no projeto de revitalização de Medellín, que já vinha atuando como consultor do Pacto e agora deve se mudar para Porto Alegre no segundo semestre do ano.

Também farão parte do grupo Jeff Herbert, coordenador do Escritório de Resiliência de Nova Orleans; Henk Ovink e Meike van Ginneken, embaixadores da Água da Holanda e Arnoud Molenaar, diretor do Escritório de Resiliência de Rotterdam.

Resiliência é um termo da moda e diz respeito à capacidade de adaptação e superação de situações de crise. Nova Orleans foi vítima de um desastre climático histórico em 2005, com o furacão Katrina, e a Holanda, um país em boa parte abaixo do nível do mar, é a referência clássica sobre como evitar inundações. 

Em termos operacionais, a “Estratégia de Resiliência e Inovação Social Emergência Climática POA-RS” deve ser implementada através do “Desafio Extraordinário Porto Alegre Resiliente”, reunindo cinco projetos, dos quais quatro estão em plena operação há duas semanas.

Dos projetos divulgados, três são de natureza mais imediata e focados nos problemas atuais de Porto Alegre depois da inundação, envolvendo aspectos como coordenação de voluntários e doações até o cuidado com animais domésticos e a limpeza da cidade.

As iniciativas de mais fôlego no longo prazo são focadas no monitoramento de dados naturais contínuos, conjugado com um sistema de alertas, além da criação de um “plano de comunicação” para gerenciamento da situação a curto, médio e longo prazo focado na população de Porto Alegre.

A primeira iniciativa tem no seu grupo de líderes Jorge Audy, superintendente de Inovação e Desenvolvimento da PUC-RS e do Tecnopuc e um nome chave no ecossistema de inovação do estado. 

“O objetivo é fazer frente, de forma ecossistêmica, aos desafios atuais, atuar na mitigação dos efeitos das enchentes e na construção de uma nova visão de futuro da cidade e do estado”, aponta a nota.

Com a divulgação dos seus planos mais a longo prazo para o Rio Grande do Sul, 

Vale destacar que apesar do protagonismo de UFRGS, PUC-RS e Unisinos. criadores da iniciativa em 2019, o Pacto Alegre é apoiado por grande parte do PIB gaúcho, incluindo empresas como RBS, Sicredi e Agibank.

Até agora, a iniciativa estava focada na promoção de diversas ações visando o desenvolvimento do ecossistema de tecnologia da cidade, como incentivos para instalação de empresas, formação de mão de obra qualificada e digitalização do governo. 

Com o desastre climático em curso no Rio Grande do Sul, a pauta de prioridades do movimento deve passar por uma reorientação.

PREFEITURA CHAMOU CONSULTORIA INTERNACIONAL

Apesar de já estar atuando na prática desde o começo da enchente, a comunicação do Pacto Alegre sobre suas ações vem depois de outra iniciativa ter roubado a cena quando o tema são iniciativas de reconstrução no Rio Grande do Sul.  

Em coletiva de imprensa na segunda-feira, 13. o prefeito de Porto Alegre revelou um trabalho conjunto com a Alvarez & Marsal, consultoria americana especializada em gestão de crise. 

Melo disse que a Alvarez & Marsal trabalharia gratuitamente por 60 dias e que depois a cidade ia ver o que fazer. 

Segundo o prefeito, 20 funcionários chegariam para somar esforços aos técnicos do município já na primeira semana. 

O site Matinal, de Porto Alegre, teve acesso a um plano inicial da consultoria, com ações previstas para 100 dias.

O documento, porém, não está disponível na íntegra e o Matinal só publicou uma lista de cinco tópicos bastante genéricos: 1) estruturação do plano e gestão do comitê de crise; 2) ações emergenciais e logística de recursos; 3) gestão de recursos financeiros; 4) regularização das operações; 5) alavancas fiscais e tributárias. 

O que fica é que a empresa já conta com trabalhar na cidade além do prazo inicial de 60 dias mencionado pelo prefeito. 

À Folha de S.Paulo, a empresa disse que no momento “concentra seus esforços no diagnóstico e no plano emergencial de ações e, tão logo tenha a estrutura, apresentará cronograma para implementação”.  

A entrada em cena da Alvarez & Marsal está causando celeuma no Rio Grande do Sul, com críticas fortes a que se poderia definir como a “ideologia neoliberal” da consultoria, temperado com uma pitada de ciúme da intelectualidade da capital, cujas universidades estão entre as melhores do país.