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Cliente não sabe porque ir para o S/4

Pesquisa encomendada pela Rimini mostra CIOs confusos e desconfiados da SAP.

20 de outubro de 2025 - 09:09
Clientes da SAP tem lá as suas dúvidas sobre o futuro. Foto: Depositphotos.

Clientes da SAP tem lá as suas dúvidas sobre o futuro. Foto: Depositphotos.

Uma década depois do lançamento do S/4 a maioria dos clientes ainda não sabe direito porque deveria migrar para o novo ERP da SAP. 

A conclusão, que certamente não é muito tranquilizadora para a multinacional alemã, faz parte de um um estudo patrocinado pela Rimini, no qual a fornecedora de suporte tercerizado deixou 455 executivos fazerem uma espécie de “DR” com a SAP. 

Um terço dos pesquisados (31%) disse que é difícil projetar retorno para a sua empresa no investimento de ir para o S/4. Outros 64% disseram que precisam de algum esforço e apenas 5% disseram que era fácil. 

O Brasil é o segundo país com mais entrevistados, só atrás dos Estados Unidos. Os resultados devem ser apreciados com moderação, porque a Rimini tem lá os seus interesses no assunto.

Parte do problema, pelo menos na visão dos clientes ouvidos na pesquisa, é a que quase ninguém entende a comunicação e os planos da SAP em torno da migração para o S/4: 84% dos entrevistados se disseram confusos.

Além de confuso, o cliente também está desconfiado: quase a metade dos entrevistados (48%) disseram que a política de migração beneficia mais a SAP do que os clientes, e outros 52% se disseram parcialmente de acordo com essa afirmação. 

O problema de fundo é conhecido: a SAP quer migrar os seus clientes de software customizado rodando on premise na versão ECC para o novo S/4 Hana, na nuvem e pago por assinatura.

A pegadinha é que apesar da modalidade de pagamento por assinatura não ser mais uma novidade no mundo do software, os clientes estão desconfiados sobre como isso vai funcionar para uma aplicação tão central, complexa e cara como o ERP. 

Assim, os clientes ouvidos na pesquisa apontam como vantagens para o modelo SaaS no ERP coisas que são comuns a qualquer software oferecido nesse modelo, como menos necessidade de gerenciamento de TI, um fator citado por 80%, ou a possibilidade de melhorar o produto sem upgrades, apontado por outros 70%.  

Os problemas, no entanto, parecem muito mais específicos do tipo de software que a SAP vende. Os usuários estão preocupados com aumentos imprevisíveis nos custos a longo prazo (90%) ou ficarem presos com o fornecedor (outros 80%).

Outro aspecto é que os clientes parecem estar mais abertos a ambientes de tecnologia com diversos fornecedores. 

Quando perguntados sobre de onde deve vir a inovação no futuro para o seu ambiente de ERP, 78% disseram que da SAP e “outros fornecedores”. Só 11% responderam “só da SAP”, e outros 11% “só de outros”.

Um recorte interessante é pela versão do ERP que os clientes rodam. Quem ainda está no ECC disse que a inovação do ERP no futuro deve vir de outros fornecedores em 29% dos casos.

(O que é justamente música nos ouvidos da Rimini, cujo modelo de negócio é ajudar os clientes da SAP a ficarem no ECC). 

O interessante é que a base de pesquisados está até mais adiantada na migração para o S/4 do que o geral do mercado. 

Dos pesquisados, 28% rodam só o ECC; outros 28% ECC em grande parte, 13% partes iguais de ECC e S/4 e outros 24% já estão majoritariamente no S/4. Apenas 7% estão totalmente no S/4.

Segundo o relatório do Gartner do começo do ano, hoje 60% dos clientes da SAP seguem rodando o bom e velho ECC 6.0, lançado lá em 2005. 

A perspectiva de longo prazo não chega a ser tão ruim para a SAP, mesmo em um estudo bancado pela Rimini. No final das contas, os clientes se veem no médio prazo onde a multinacional alemã quer que eles se vejam.

Em cinco anos, 51% dos entrevistados dizem que devem estar usando o S/4 na nuvem, o que poderia ser considerado também o cenário favorito para a SAP.

Outros 14% falam de usar o S/4, só que on premises e 8% falam em ficar no ECC, só que na nuvem.

Fica sobrando um grupo de irredutíveis relativamente grande: 23% querem rodar o ECC on premises, o que significaria basicamente pular fora do roadmap da SAP. 

O problema é justamente o que vai acontecer nesses cinco anos. O suporte para o ECC está marcado para acabar em 2030. 

Até pouco tempo atrás, o roadmap da SAP previa que o suporte normal com updates encerraria em 2027. Os três anos seguintes seriam do chamado “extended support”, com custo adicional de 3% e sem as atualizações do produto. 

O S/4 Hana foi apresentado pela primeira vez em 2015 e está no centro das atenções desde então. Mesmo assim, a expectativa do Gartner é que 24% da base de clientes da SAP chegue a 2030, data final do suporte, usando ainda o ECC. 

(Vale lembrar que essas datas já são uma prorrogação. A data original para o final do suporte normal era 2025. Em 2020, foi anunciado o  prolongamento para 2027). 

A SAP vinha se atendo a isso até pouco tempo atrás, mas no começo do ano vazou na imprensa os planos para o “SAP ERP, private edition, transition option”, uma forma de alguns clientes ficarem mais tempo no ECC.

Numa situação até agora bastante confusa, a SAP confirmou os planos e disse que o lançamento oficial deve acontecer ainda no primeiro semestre - o que não aconteceu.

O que sim aconteceu foi o anúncio de uma grande investigação antitruste por parte da União Europeia, anunciada no final de setembro. 

A acusação? A SAP estaria abusando de sua posição dominante no mercado de ERP para restringir a concorrência e impor condições contratuais desfavoráveis no mercado de serviços de manutenção e suporte de seu software on-premises. 

Parece que tem música para os ouvidos da Rimini, inclusive fora das pesquisas bancadas pela empresa.