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Deu problema com o real digital?

Banco Central desiste de tecnologia chave no projeto por “problemas de privacidade.

05 de novembro de 2025 - 06:35
Uma tecnologia mais antiga para guardar dinheiro. Foto: Depositphotos.

Uma tecnologia mais antiga para guardar dinheiro. Foto: Depositphotos.

O Banco Central decidiu desligar a plataforma DREX, a infraestrutura tecnológica para o futuro real digital. 

Segundo fontes ouvidas pelo Infomoney, o motivo da decisão do BC foram “problemas de privacidade” e uma nova arquitetura deve ser definida no começo do ano que vem.

A informação foi divulgada pela primeira vez por dois portais especializados, Block News e Finsiders, e agora também pelo Infomoney, uma dos maiores sites e economia do país. 

O Banco Central ainda não se posicionou publicamente sobre o assunto, nem respondeu ao contato do Infomoney.

A decisão acontece às vésperas do projeto Drex entrar na sua terceira fase, na qual o real digital passaria a ser usado na prática.

As fontes do Infomoney apontam que uma substituição deve ocorrer antes disso, em janeiro de 2026. 

A decisão foi anunciada em uma reunião entre os consórcios participantes de pilotos do Drex, que ocorreu nesta terça-feira, 4.

Para entender a importância da mudança, é preciso entrar um pouco em aspectos técnicos. 

A plataforma Drex é o nome dado pelo Banco Central do Brasil ao projeto de real digital, ou seja, a versão digital da moeda brasileira que vai funcionar sobre uma infraestrutura de blockchain que controla a movimentação do dinheiro.

Essa tecnologia era até agora o Besu, um cliente de blockchain desenvolvido em Java, parte do projeto Hyperledger, uma iniciativa da Linux Foundation que reúne diversas tecnologias de blockchain de código aberto voltadas a usos corporativos.

O projeto Drex começou a ser concebido em 2019 e estava projetado para acontecer em três fases principais.

Na primeira, em 2023 e 2024, foi feito um teste da infraestrutura tecnológica da rede blockchain usando o Hyperledger Besu, com o envolvimento de 16 instituições financeiras, entre bancos, fintechs e cooperativas.

Elas fizeram transferências de Drex e emissão de tokens representando ativos financeiros (como títulos públicos), além de testes de segurança, privacidade e desempenho. 

Na fase 2, atualmente em curso, a meta era experimentar casos de uso práticos e avançar na tokenização de ativos como cotas de fundos e ativos imobiliários e contratos inteligentes para empréstimos e pagamentos entre instituições. 

Estudos de interoperabilidade com o Pix e outros sistemas de pagamento e testes e identidade digital e camadas de segurança regulatória também estavam na pauta.

Nessa etapa, que ocorreu usando a infraestrutura de blockchain Hyperledger Besu, os objetivos relacionados à privacidade não teriam sido atingidos satisfatoriamente, segundo as fontes do Infomoney.

Na fase 3, prevista para começar no ano que vem, estava previsto disponibilizar o Drex para uso real no mercado, integrando-o ao sistema financeiro brasileiro e permitindo que cidadãos e empresas façam transações digitais

O BC ainda não entregou o relatório da fase 2, e, para a frase 3, espera-se a escolha de uma nova tecnologia no lugar da infraestrutura e uma sequência nos estudos sobre temas para uso do Real Digital.

Neste ponto, só é possível especular quais foram os tais “problemas de privacidade” detectados pelo BC em um projeto tão complexo. 

O que qualquer um sabe, no entanto, é que o Pix, outro sistema complexo operado pelo BC, vem atravessando problemas sérios de segurança nos últimos meses.

Durante um bom tempo, os problemas se limitavam ao vazamento de chaves do Pix, milhares de cada vez. 

Nos últimos tempos, porém, tem se acumulado ataques a provedores chave do sistema financeiro, como a Sinqia e a C&M, nos quais hackers conseguiram desviar quantias milionárias.